Duas semanas após a deflagração da Operação Sem Desconto — ação da Polícia Federal que revelou um esquema bilionário de cobranças indevidas em benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) — o governo federal, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segue inerte diante da gravidade do escândalo. A reação lenta, politizada e visivelmente calculada do Planalto revela não apenas despreparo, mas também um alarmante desprezo pela gravidade dos fatos.
Ao invés de promover uma resposta imediata e contundente, o presidente hesitou em exonerar o então ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), cujo vínculo político com o governo parece ter pesado mais do que sua responsabilidade diante da crise. Pior: nomeou para seu lugar o ex-secretário-executivo da pasta, Wolney Queiroz, político que, enquanto deputado federal, articulou mudanças legislativas que enfraqueceram os mecanismos de controle sobre descontos em folha. Ou seja, trocou-se o chefe, mas manteve-se a linha de comando.
A gestão Lula perdeu a oportunidade de sinalizar um compromisso sério com o combate à corrupção e com a proteção dos aposentados — justamente o grupo mais vulnerável e afetado pela fraude. As medidas adotadas até agora foram tímidas, burocráticas e insuficientes. Não houve exonerações em massa, tampouco a determinação de auditorias amplas e independentes nas entidades envolvidas. A devolução do dinheiro sequer foi detalhada: não se sabe quando, como ou em quantas parcelas os valores serão restituídos.
Vale lembrar que, desde meados de 2023, Lupi e Queiroz foram alertados sobre o crescimento das denúncias de débitos indevidos. Mesmo assim, ignoraram os alertas. Reuniões do Conselho Nacional da Previdência Social — do qual ambos faziam parte — trataram superficialmente do assunto, com tentativas explícitas de adiar qualquer debate concreto.
O pano de fundo é ainda mais preocupante. O esquema de descontos fraudulentos operava há anos, com aval tácito de diversas instâncias da máquina pública. Emendas, medidas provisórias e atos administrativos facilitaram o caminho para que entidades, muitas ligadas a sindicatos e associações de classe, se beneficiassem do desconto automático sem a devida autorização dos segurados. O silêncio do Congresso durante anos também pesa sobre o caso.
A omissão do governo levanta uma pergunta inevitável: quem pagará a conta? Há indícios de que a devolução dos valores será bancada pela União — ou seja, pelo contribuinte — e não pelas entidades beneficiadas pelo esquema. Se confirmada, a decisão consolidará um dos mais perversos capítulos da gestão pública recente: punir os inocentes, livrar os aliados e blindar interesses políticos.
O presidente Lula, ao proteger figuras como Lupi e Queiroz, optou por manter seu pacto político com setores do PDT e do sindicalismo, em detrimento dos aposentados brasileiros. E, ao evitar medidas firmes, repete um velho padrão: a política como escudo da impunidade.
Diante da magnitude do escândalo, o mínimo que se espera de um chefe de Estado é liderança, clareza e responsabilidade. Até aqui, o que se viu foi hesitação, corporativismo e silêncio. Os aposentados, lesados e desamparados, continuam à espera — não só de seus direitos, mas de um governo que demonstre, na prática, que está do lado certo.