Mais de cem funcionários da estatal petrolífera venezuelana PDVSA, além de trabalhadores do Ministério do Petróleo e de outros setores públicos, foram forçados a renunciar devido às suas opiniões políticas desde a eleição contestada do mês passado, informaram trabalhadores e sindicatos. O governo afirma que o presidente Nicolás Maduro garantiu um terceiro mandato na eleição de 28 de julho, enquanto a oposição alega que as contagens parciais indicam uma vitória expressiva de seu candidato, Edmundo Gonzalez.
Executivos da PDVSA teriam instruído funcionários administrativos e operacionais a participar de comícios em apoio a Maduro e monitorado suas contas nas redes sociais, conforme relatado por quatro fontes da empresa e um líder sindical. Funcionários que não apoiaram Maduro ou questionaram os resultados oficiais estão sendo demitidos, segundo essas fontes. “Você é chamado para o RH, é feito sentar e recebe uma carta de demissão para assinar”, contou uma das fontes.
O Ministério do Petróleo e a PDVSA não responderam imediatamente a solicitações de comentários. A crise de pessoal na PDVSA pode piorar, já que a falta de trabalhadores qualificados tem afetado gravemente as operações da empresa, reduzindo sua produção de petróleo a uma fração do que era há uma década. Desde a eleição, cerca de 100 funcionários administrativos foram dispensados da sede da PDVSA em Caracas, e mais de 30 da divisão oriental, que é responsável pela maior parte da produção de petróleo bruto da Venezuela, foram forçados a renunciar, conforme informado pelo maior sindicato de petróleo do país.
José Bodas, líder sindical, afirmou em comunicado que “essa é uma retaliação política contra trabalhadores que se manifestaram contra Maduro durante o processo eleitoral mais recente”. A PDVSA possui cerca de 90.000 funcionários, de acordo com dados divulgados recentemente por seu CEO, Pedro Tellechea.
Outros órgãos públicos também estão adotando medidas semelhantes, incluindo vários ministérios, a empresa estatal de energia Corpoelec, conglomerados industriais estatais, a empresa petroquímica Pequiven, o sistema de metrô de Caracas e a mídia pública, de acordo com Bodas, outros sindicatos e fontes dessas entidades.
Pelo menos oito funcionários do Ministério do Petróleo foram afastados por motivos políticos, relatou uma fonte próxima ao assunto. A Reuters não conseguiu determinar imediatamente o número total de funcionários públicos que deixaram seus cargos nas três semanas desde a eleição. “Eles usam até as menores coisas, como status em mídias sociais, uma mensagem em seu perfil, uma citação contra o governo. Tiram uma captura de tela e enviam para o RH”, disse um funcionário da refinaria, que pediu anonimato por medo de retaliação.
Países ocidentais e organismos internacionais, incluindo as Nações Unidas, pediram ao governo da Venezuela a divulgação da contagem completa dos votos da eleição e o fim da perseguição, após os protestos contra Maduro resultarem em 23 mortes e mais de 2.400 prisões.