A sobrevivência política do primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau parece frágil, uma vez que a sua ministra das Finanças, Chrystia Freeland, se demitiu, invocando diferenças irreconciliáveis sobre a melhor forma de lidar com as ameaças tarifárias de Trump.
O presidente eleito Donald Trump brincou que seria uma “grande ideia” o Canadá tornar-se o 51.º Estado dos Estados Unidos (EUA), numa altura em que o líder canadiano Justin Trudeau enfrenta uma crise política interna ligada ao receio de uma potencial guerra tarifária com Trump.
“Muitos canadianos querem que o Canadá se torne o 51.º Estado”, publicou Trump na sua plataforma Truth Social na quarta-feira. “Eles poupariam muito em impostos e proteção militar. Acho que é uma ótima ideia. 51.º Estado!!!”, acrescentou.
Uma sondagem do Leger sugere que 13% dos canadianos gostariam que o país se tornasse um Estado dos EUA.
Trump fez a mesma piada num jantar na sua estância de Mar-a-Lago, no final de novembro, que provocou risos na audiência.
De acordo com a Fox News, o presidente eleito sugeriu que a fusão das nações resolveria as suas preocupações com o tráfico de fentanil e conteria o fluxo de migração ilegal – uma questão que afeta em grande medida a fronteira sul dos EUA.
Desde o seu comentário, Trump tem chamado ao primeiro-ministro Justic Trudeau o “governador” do Canadá na sua plataforma – um título normalmente utilizado pelos líderes dos estados norte-americanos.
Os comentários de Trump surgem no momento em que Trudeau se debate com a sua liderança, após a demissão da ministra das Finanças canadiana, Chrystia Freeland, um dos seus ministros mais poderosos e leais.
Freeland e Trudeau discordaram sobre o recém-anunciado feriado fiscal de dois meses sobre as vendas e sobre os cheques de 250 dólares canadianos (168 euros) para os canadianos, que Freeland apelidou de “artifício político dispendioso”.
Freeland argumentou que o Canadá não podia permitir-se tais políticas no contexto da ameaça de Trump de impor tarifas de 25% ao país, feita em novembro.
“O nosso país está a enfrentar um grave desafio”, afirmou Freeland na sua carta de demissão. “Isso significa manter a nossa pólvora fiscal seca hoje, para que tenhamos as reservas de que podemos precisar para uma guerra tarifária que se aproxima”.
A decisão foi tomada depois de Trudeau lhe ter dito, na semana anterior, que não queria que ela continuasse a ser ministra das Finanças do país.
A sua saída, que ocorreu mesmo antes de apresentar o orçamento do governo, deixou o executivo de mãos a abanar e, aparentemente, empurrou Trudeau e o seu já frágil Partido Liberal para a iminência do abismo.
Os membros do partido de Trudeau pediram-lhe que se demitisse, tal como os três líderes dos partidos da oposição canadiana, que afirmaram na segunda-feira que Trudeau devia abandonar o cargo.
Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador do Canadá, na oposição, pediu a realização de eleições federais antecipadas.
“Tudo está a ficar fora de controlo. Não podemos simplesmente continuar assim”, afirmou.
Em novembro, Trump afirmou que iria impor uma taxa de 25% sobre todos os produtos provenientes do Canadá e do México que entrassem no país, num esforço para combater a migração ilegal e a crise do fentanil nos EUA.
Os economistas alertaram para o facto de que tais tarifas prejudicariam significativamente a economia canadiana. O Canadá foi responsável por cerca de 437 mil milhões de dólares das importações dos EUA em 2022 e foi igualmente o maior mercado para as exportações dos EUA no mesmo ano, de acordo com dados do governo dos EUA.
O Canadá envia cerca de 75% do total das suas exportações para os EUA.
“As coisas que vendemos aos Estados Unidos são as que eles realmente precisam”, disse Freeland após o anúncio de Trump em novembro. “Vendemos-lhes petróleo, eletricidade, minerais e metais essenciais”.