Chefão do tráfico usava o futebol para lavar dinheiro das drogas
O uruguaio Sebastián Marset, flagrado em vídeo ao lado de líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, está na lista vermelha da Interpol e é alvo de uma recompensa de até US$ 2 milhões oferecida pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Considerado um dos traficantes mais procurados do mundo, seu cartel é acusado de enviar mais de 16 toneladas de cocaína da América do Sul para a Europa, através de conexões com a máfia italiana ‘Ndrangheta.
_Um vídeo exclusivo obtido pela jornalista Mirelle Pinheiro, do Metrópoles, mostra Sebastián Marset, um dos traficantes mais procurados do planeta, reunido com lideranças do PCC e fazendo ameaças diretas a rivais e forças policiais. Ele ameaça guerra na fronteira do Brasil. _pic.twitter.com/cB5r2QT3FM
_— Sam Pancher (@sampancher) _November 3, 2025
Traficante com ambições de jogador
A trajetória de Marset combina tráfico internacional de drogas, assassinatos e lavagem de dinheiro com uma obsessão pelo futebol. De acordo com reportagem do jornal norte-americano The Washington Post, o traficante usava clubes esportivos como fachada para movimentar grandes quantias de dinheiro. Além de financiá-los, Marset forçava sua entrada nas equipes como jogador, mesmo com habilidades abaixo do nível profissional.
Foi assim no Deportivo Capiatá, no Paraguai. “Ele pagou US$ 10 mil em dinheiro para usar a camisa 10”, revelou o jornal. Mesmo errando passes simples e desperdiçando gols, era mantido em campo por pressão direta sobre os técnicos.
Segundo investigação do veículo norte-americano, Marset chegou a adquirir ou patrocinar clubes na Bolívia, no Paraguai, no Uruguai e até na Grécia, sempre com o objetivo de lavar dinheiro oriundo do tráfico de cocaína.
Marset é investigado em três continentes
O crescimento do império do narcotráfico comandado por Marset atraiu a atenção de autoridades da América Latina, EUA e Europa. Uma operação internacional, conduzida entre 2021 e 2022, mapeou a estrutura logística do cartel, que utilizava aeroportos clandestinos, aviões privados e navios cargueiros para transportar cocaína da Bolívia até portos como o de Montevidéu, no Uruguai, e posteriormente à Europa.
Documentos da Administração de Repressão às Drogas dos EUA mostram que Marset usava identidades falsas e contava com proteção de autoridades locais. Uma das cargas atribuídas ao seu grupo, com 11 toneladas de cocaína, foi apreendida em um porto na Bélgica.
A conexão com o PCC surgiu durante sua prisão na Penitenciária Libertad, no Uruguai, entre 2013 e 2018, período em que conheceu membros da facção. Depois de ser libertado, passou a atuar como elo logístico entre Bolívia, Brasil, Paraguai e Europa.
“Estamos prontos para a guerra”, diz Marset na gravação divulgada nesta segunda-feira, 3, em referência a adversários e forças de segurança. “Hoje posso estar aqui, amanhã no Paraguai, outro dia na Colômbia. Onde for, estamos preparados.”
Dubai, Europa e futebol como rota de fuga
Em 2021, Marset foi preso em Dubai ao tentar embarcar com um passaporte paraguaio falso. Ainda assim, conseguiu escapar da extradição. O governo do Uruguai, segundo documentos revelados pelo The Washington Post, emitiu um novo passaporte para ele mesmo depois de alertas diplomáticos. A decisão gerou uma crise no país e forçou renúncias em ministérios uruguaios.
Logo depois de sua soltura, uma série de assassinatos foi atribuída a ele. Entre as vítimas está o promotor paraguaio Marcelo Pecci, executado na Colômbia durante a lua de mel. O governo colombiano atribuiu a ordem a Marset, embora o próprio traficante negue envolvimento.
Atualmente, Marset continua foragido. Em março deste ano, o Departamento de Justiça dos EUA formalizou uma acusação contra ele por lavagem de dinheiro mediante instituições bancárias norte-americanas. A partir disso, o governo dos EUA anunciou uma recompensa de até US$ 2 milhões por informações que levem à sua prisão ou condenação.