Vizinhos ainda reforçaram suas fronteiras com o Brasil
O governo do Paraguai anunciou, nesta quinta-feira, 30, a decisão de classificar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas. A medida, que será formalizada por decretos do presidente Santiago Peña nas próximas horas, foi comunicada depois de reunião do Conselho de Defesa Nacional (Codena) em Assunção.
Segundo o secretário do Codena, contralmirante Cíbar Benítez, a decisão foi tomada com base em “sobradas razões” e representa uma resposta direta à atuação internacional das facções brasileiras. “Eles já não só incidem na vida das pessoas em particular, mas atentam contra a soberania, contra o nosso território, invadem nossas instituições, são organizações autenticamente terroristas”, afirmou.
Benítez explicou que, do ponto de vista jurídico, a designação de terrorismo implica penas mais severas e tem caráter dissuasório. A classificação também permitirá às autoridades adotar medidas mais rigorosas de investigação e repressão, além de ampliar a cooperação internacional em matéria de segurança.
Além da nova classificação, o governo determinou o aumento do nível de alerta em toda a faixa de fronteira com o Brasil, “particularmente no leste”, onde há histórico de presença de integrantes das facções.
“Vai haver um reforço de meios, isto é, de pessoal e material, de tudo o que tem a ver com defesa e segurança”, disse o contralmirante. Ele garantiu, no entanto, que as atividades cotidianas não serão afetadas. “Não se vai interferir nas atividades normais, nem comerciais, nem de trânsito, nem nada.”
De acordo com Benítez, o plano de segurança será implementado de forma imediata e mantido de maneira indefinida, “indo além das festas de fim de ano”. A operação envolverá as Forças Armadas, a Polícia Nacional e o Departamento de Migrações. O objetivo é proteger a população e manter a calma diante de possíveis deslocamentos de criminosos.
O ministro do Interior do Paraguai, Enrique Riera, afirmou que o reforço se estenderá pelas regiões vizinhas ao território brasileiro. “Tenho instruções concretas do presidente de falar com nossos governadores, com os prefeitos do lado brasileiro, e entre todos começar a compartilhar esta preocupação”, declarou. Segundo ele, haverá coordenação direta com autoridades do Paraná e de municípios fronteiriços.
As decisões do Codena foram tomadas em meio à intensificação de operações de combate a facções criminosas no Brasil. Na última terça-feira, 28, uma megaoperação no Rio de Janeiro mobilizou mais de 2,5 mil agentes e resultou em mais de cem mortes. Segundo as autoridades paraguaias, há temor de que integrantes dessas organizações tentem escapar pela fronteira.
Paraguai segue Argentina e Uruguai
A Argentina já havia adotado passo semelhante no dia anterior. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, anunciou que o país classificou o PCC e o CV como “organizações narcoterroristas”. Segundo ela, há aproximadamente 13 brasileiros faccionados no país, que são mantidos isolados para impedir que exerçam influência dentro do sistema penitenciário.
No Uruguai, o Ministério do Interior informou que monitora de perto a fronteira norte e “atuará em consequência” dos fatos recentes no Rio de Janeiro. As forças locais buscam rastrear possíveis rotas de fuga utilizadas por criminosos depois da megaoperação na zona norte carioca.