A candidata do partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris, não visitou o Brasil durante os quatro anos em que atuou como vice-presidente e liderou a política de imigração norte-americana.
No entanto, seu pai, o economista Donald J. Harris, esteve no Brasil em várias ocasiões durante a década de 1990. Como professor de economia, ele ministrou palestras sobre suas teorias macroeconômicas, que na época eram vistas como de esquerda pelos acadêmicos brasileiros.
Em maio de 1999, Donald J. Harris participou da segunda edição do Colóquio Internacional sobre Economia Dinâmica e Política Econômica, promovido pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com a Universidade Católica de Brasília.
Naquela época, Harris era professor na Universidade de Stanford e já era renomado mundialmente devido ao seu livro “Acumulação de Capital e Distribuição de Renda” (tradução livre), publicado em 1978 e dedicado às filhas Kamala e Maya.
Durante o colóquio de 1999, o economista abordou temas como estabilidade macroeconômica e crescimento, usando a Jamaica, seu país de origem, como exemplo. Em seu artigo, ele destacou os desafios enfrentados por economias em desenvolvimento para alcançar e manter resultados macroeconômicos significativos, enquanto buscam promover um crescimento global elevado em um ambiente internacional cada vez mais interdependente.
Se eleita em novembro deste ano, Kamala Harris será a primeira mulher negra e filha de pais imigrantes a governar a maior economia do mundo. Além do pai jamaicano, ela é filha de uma indiana, a cientista Shyamala Harris.
As palestras de Donald J. Harris entusiasmaram os estudantes de economia, e ele foi frequentemente convidado para almoços, jantares e eventos sociais em bares e restaurantes da Asa Norte, em Brasília. “Ele era muito querido pelos estudantes. Eles gostavam muito dele”, lembrou a professora Maria de Lourdes Rollemberg Mollo, que lecionou na Faculdade de Administração, Economia, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas (FACE) da UnB.
Mollo participou de um dos almoços organizados por estudantes com Harris e descreveu-o como uma pessoa muito agradável e competente, destacando a qualidade dos seminários que ele ministrou. “Ele é um economista de esquerda e muito simpático”, afirmou a professora.
Donald J. Harris era visto como “marxista” por seus pares, como mencionou Mollo. Além de seu livro sobre acumulação de capital, ele desenvolveu a teoria conhecida como “controversia do capital”, que criticava teorias dominantes na economia.
Durante sua estadia no Brasil para o colóquio, Harris foi hospedado pelo professor emérito da UnB, Joanílio Teixeira, chefe do Departamento de Economia.
Em uma entrevista ao jornal da UnB em 2021, o economista destacou que o maior legado de seu pai foi a crítica ao “mainstream” das ciências econômicas a partir de uma perspectiva heterodoxa.
Em suas visitas ao Brasil, Donald J. Harris também publicou um artigo na revista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a “post mortem Neoclássica”, além de uma resenha sobre a tradução para o inglês do livro “Diagnosis of the Brazilian Crisis”, de Celso Furtado.