Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade, conquistou a primeira posição nas eleições legislativas de novembro passado, obtendo 23% dos votos. O defensor da preferência nacional angariou um apoio sem precedentes, em meio a uma profunda crise econômica e social.
Em uma visita à Roterdã, a segunda maior cidade dos Países Baixos, e uma das cidades onde o líder populista obteve significativo apoio.
“Tudo se torna cada vez mais caro. Tudo nos é realmente retirado. E as pessoas têm medo”, declarou a proprietária de uma loja de roupas em Roterdã.
“Queremos ouvir falar de outra coisa que não seja a pobreza e os cortes orçamentais. Se ele acha que pode corrigir as coisas, por mim tudo bem”, acrescentou Rashma, que afirma ter cada vez menos clientes.
A inflação, especialmente nos preços dos alimentos e da energia, está impactando severamente o país.
“A pobreza é realmente um problema crescente, mesmo entre os trabalhadores”, afirma John, cuja pequena instituição de caridade coleta alimentos e itens essenciais para distribuir a famílias desfavorecidas em um bairro de classe trabalhadora em Roterdã.
Caroline, uma das beneficiárias e mãe solteira de quatro filhos, afirma que não conseguiria sobreviver sem essa assistência. Ela conta com Geert Wilders para tirar o país da recessão e vê sua postura anti-imigração como parte da solução.
“Ele vai mudar muita coisa. O país já está cheio. Os holandeses querem ajudar toda a gente, mas, primeiro, têm de ajudar o seu próprio país. Este país é só miséria!”, ressaltou Caroline.
Governo de coalizão
Sem maioria parlamentar, Geert Wilders ainda precisa garantir o apoio de outros partidos para formar um governo de coalizão.
Conhecido por sua retórica anti-imigração, islamofóbica, eurocética e cética em relação ao clima, ele teve que suavizar sua narrativa e abandonar planos de proibir mesquitas, o Corão, escolas islâmicas e o uso de burca e niqab nos Países Baixos.
No entanto, isso não é suficiente para acalmar a comunidade muçulmana, conforme destaca o imã da mesquita Essalam em Roterdã, uma das maiores da Europa.
“Desde as eleições, a violência, a discriminação e a exclusão dos muçulmanos nos Países Baixos aumentaram drasticamente”, afirma o imã. “Agora vemos pessoas que se interrogam se ainda são bem-vindas aqui e pensam em deixar o país, para países onde os seus filhos possam crescer num ambiente saudável”.