Pelo menos 229 pessoas detidas na Nicarágua por motivos políticos sofreram diversas formas de tortura e outros “crimes contra a humanidade” nas mãos do governo nos últimos sete anos, disse uma ONG de direitos humanos na terça-feira.
O Coletivo de Direitos Humanos Nicarágua Nunca Mais disse em um relatório que documentou a tortura de 183 homens e 46 mulheres entre cerca de 2.000 pessoas presas em conexão com os protestos antigovernamentais de 2018.
A vice-presidente e porta-voz do governo da Nicarágua, Rosario Murillo, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
No passado, o governo de Ortega ignorou relatórios de ONGs, bem como da ONU e da Organização dos Estados Americanos, dizendo que eles faziam parte de uma campanha internacional contra o governo.
A ONG, sediada na vizinha Costa Rica, disse que pelo menos 178 dos que testemunharam relataram ter sofrido abusos como espancamentos, pancadas com armas, estupros, ameaças de morte e ameaças ou agressões contra familiares.
O relatório disse ter identificado mais de 40 formas de tortura por meio dos depoimentos, incluindo 159 casos de espancamentos, 22 de asfixia ou estrangulamento, 17 casos de choques elétricos, 21 queimaduras com plástico ou ferro e 18 extrações de unhas ou dentes.
Pelo menos 117 pessoas foram privadas de atendimento médico e 85 mantidas em isolamento por mais de duas semanas, afirmou.
A maioria das detenções foi violenta e arbitrária e os detidos não receberam mandado de prisão, disse a ONG, enquanto em 40% dos casos foi relatada “participação de agentes paramilitares que atuaram como uma terceira força armada”.
O relatório acusou o governo sandinista do presidente Daniel Ortega de cometer crimes contra a humanidade.
O Escritório de Direitos Humanos da ONU emitiu um alerta na segunda-feira, no qual disse que a situação continuava a se deteriorar na Nicarágua, onde os cidadãos estavam sujeitos a um “clima severo e repressivo”.
O governo da Nicarágua aprovou recentemente um conjunto de reformas que, segundo os críticos, formalizam o poder já amplo do presidente Ortega sobre o estado. Elas incluem uma expansão dos poderes presidenciais e dos poderes da polícia e do exército.