Aliados da líder da oposição mantiveram toda a operação em segredo para evitar riscos à sua integridade física
María Corina Machado deixou a Venezuela de forma discreta nesta terça-feira 9, ao embarcar em uma lancha rumo a Curaçao. A saída sigilosa buscou garantir sua segurança e permitir que ela seguisse para Oslo, onde receberia o Prêmio Nobel da Paz.
A informação foi divulgada na quarta-feira, 10, pelo The Wall Street Journal, que conversou com fontes ligadas ao governo dos Estados Unidos.
Aliados de María Corina Machado mantiveram toda a operação em segredo para evitar riscos à sua integridade física.
Apesar do esforço, ela não conseguiu comparecer à cerimônia do Nobel nesta quarta, mas assegurou que está a caminho da Noruega, o que dissipou dúvidas levantadas pelo Comitê Nobel sobre seu paradeiro.
Contato com o Comitê Nobel e desafios logísticos
Segundo informações da assessoria de comunicação do prêmio, ao conversar por telefone com o presidente do Comitê Nobel, Jørgen Watne Frydnes, María Corina disse que muitas pessoas arriscaram suas vidas para que ela pudesse viajar a Oslo.
“Sou muito grata a elas”, ressaltou. “Isso representa o significado deste reconhecimento para o povo venezuelano.”
O comitê não detalhou quando ou onde a ligação ocorreu. No mesmo dia, Kristian Berg Harpviken, diretor do instituto Nobel, relatou à emissora NRK que a logística para levar María Corina a Oslo foi mais complexa do que o previsto, devido a ameaças de morte atribuídas ao regime venezuelano, que se estendem além das fronteiras do país.
María Corina, conhecida por sua oposição aos ditadores Hugo Chávez e Nicolás Maduro, reencontrará em Oslo seus três filhos, que vivem fora da Venezuela por razões de segurança.
“Assim que chegar, poderei abraçar minha família e meus filhos, que não vejo há dois anos, além de tantos venezuelanos e noruegueses que compartilham nossa luta”, destacou.
Durante a solenidade em Oslo, o prêmio foi recebido por sua filha Ana Corina Sosa. Em discurso, ela lembrou que “quase 9 milhões de venezuelanos tiveram de partir”.
“O que nos move é o amor pela família e a esperança de reencontro em um país livre”, afirmou. “É isso que desejo viver com minha mãe, que não vejo há dois anos.”
Repercussão internacional
María Corina afirmou recentemente à NRK que buscava todas as alternativas para viajar à Noruega e retornar à Venezuela, apesar das dificuldades impostas para deixar e reentrar no país. Sua atuação é marcada pela defesa da democracia, em meio a um regime cada vez mais autoritário nas últimas duas décadas.
Ao anunciar o prêmio, Frydnes classificou Machado como “uma defensora corajosa e comprometida da paz… que mantém a chama da democracia acesa em meio à crescente escuridão”, segundo o Comitê Nobel. Além de autoridades dos Estados Unidos, líderes estrangeiros, como Javier Milei (presidente da Argentina), Daniel Noboa (presidente do Equador) e José Raúl Mulino (presidente do Panamá), aguardavam sua chegada a Oslo.
A homenageada dedicou o Nobel ao povo venezuelano e ao presidente Donald Trump e agradeceu “pelo apoio decisivo à nossa causa”. Na cerimônia, Ana Corina Sosa também agradeceu a ativistas, jornalistas e artistas venezuelanos que lutam pela democracia no país.
Conservadora, Machado, de 58 anos, tem Margaret Thatcher como inspiração e mantém laços próximos com governos republicanos dos Estados Unidos desde George W. Bush, defendendo posicionamento mais firme de Washington diante do regime venezuelano.
Contexto político e riscos para opositores
Os Estados Unidos vêm intensificando pressões para que Nicolás Maduro deixe o poder. Durante a administração Trump, houve o maior deslocamento militar norte-americano em décadas próximo à Venezuela e ataques a embarcações suspeitas de tráfico de drogas.
Trump chegou a ameaçar novas ações militares, incluindo incursões terrestres, além de oferecer a Maduro uma saída do país, proposta até agora recusada pelo ditador venezuelano.