O presidente francês Emmanuel Macron declarou neste domingo (17) que a França não assinará o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul “tal como está”. Durante uma visita a Buenos Aires, onde se encontrou com o presidente argentino Javier Milei, Macron pediu uma renegociação do acordo para que ele se torne aceitável para todos os envolvidos.
Em entrevista a jornalistas franceses antes de seguir para o Rio de Janeiro para a cúpula do G20, Macron afirmou que deixou claro para Milei, de forma “sincera e muito clara”, que o governo francês não ratificará o acordo comercial entre os blocos, assinado em 2019, mas ainda não ratificado. Segundo o presidente francês, o acordo original, como foi negociado, “seria muito ruim tanto para a reindustrialização da Argentina quanto para a agricultura europeia”.
Macron também mencionou que conversou com Milei sobre as preocupações francesas em relação à entrada de produtos alimentícios do Mercosul, especialmente carne tratada com hormônios e antibióticos. “Não podemos dizer aos agricultores franceses e europeus para mudarem suas práticas, para deixarem de usar certos produtos fitossanitários, e ao mesmo tempo abrirmos nossos mercados à importação em massa de produtos que não respeitam os mesmos critérios”, afirmou.
A questão da carne tratada com hormônios e antibióticos é um ponto sensível para os agricultores franceses, que temem que a liberalização do comércio com o Mercosul possa prejudicar a qualidade dos produtos nacionais. Macron destacou que o acordo comercial da União Europeia com o Canadá inclui garantias para impedir a entrada de carne com esses tratamentos, uma medida que não está presente no acordo com o Mercosul.
Durante a reunião, o presidente francês também mencionou que muitos países do Mercosul, incluindo a Argentina, expressaram insatisfação com o acordo. Milei, segundo Macron, também manifestou preocupações sobre o acordo e o funcionamento atual do Mercosul.
Interesses Estratégicos
Apesar das divergências sobre o acordo comercial, Macron e Milei discutiram outros temas de interesse mútuo, como o acesso europeu ao lítio, um recurso estratégico para a transição energética e a produção de baterias. O presidente francês sugeriu que a negociação de um novo acordo deveria incluir investimentos significativos em setores como esse, além de definir um quadro claro para a colaboração futura.
Macron também mencionou os contratos de defesa em andamento entre os dois países, que devem ser ampliados, e reiterou que as negociações com o Mercosul devem ser equilibradas, sem prejudicar a agricultura europeia.
Divergências
Outro tema de discussão foi a política ambiental. Macron afirmou que, embora Milei não tenha confirmado uma intenção de abandonar os Acordos de Paris sobre o clima, o presidente argentino expressou visões divergentes sobre o tema. “Não temos a mesma visão das coisas em relação ao clima”, disse Macron, explicando que a França considera fundamental continuar avançando em questões de clima e biodiversidade, com uma coordenação internacional para enfrentar os desafios globais.
Após sua visita à Argentina, Macron segue para o Rio de Janeiro para participar da cúpula do G20 e concluirá sua viagem à América Latina no Chile. Sua posição sobre o acordo UE-Mercosul pode ter um impacto significativo nas negociações entre a União Europeia e os países do Mercosul, especialmente em meio ao crescente descontentamento de setores agrícolas na Europa com a possibilidade de o acordo ser ratificado sem ajustes.
O desenrolar dessas negociações deverá definir os rumos do comércio internacional e das relações diplomáticas entre os dois blocos econômicos nos próximos meses.