Durante a abertura da Cúpula de Líderes do G20, na última segunda-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma declaração controversa ao afirmar que o Brasil voltou a figurar no Mapa da Fome da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Lula afirmou que, ao retornar ao governo, encontrou um país com 33 milhões de pessoas famintas, destacando que, em um ano e 11 meses, mais de 24,5 milhões de pessoas haviam sido retiradas da extrema pobreza, e prometeu que, até 2026, o Brasil novamente sairia do Mapa da Fome.
Entretanto, os números apresentados pelo presidente estão baseados em dados de uma pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Pessan), de 2022, que trouxe erros significativos. O estudo, realizado entre novembro de 2021 e abril de 2022, apontou que 15% da população brasileira, equivalente a 33 milhões de pessoas, vivia em insegurança alimentar. No entanto, a amostra da pesquisa foi questionada, pois a metodologia não traz informações detalhadas sobre os domicílios visitados, além de não ser representativa de forma mais ampla.
Em contraste, os dados da ONU, que são amplamente aceitos e baseados em informações de cinco agências internacionais, indicam que entre 2021 e 2023 cerca de 8,4 milhões de brasileiros estavam em situação de fome, número bem inferior ao divulgado por Lula. O mesmo relatório da ONU revela que 39,7 milhões de pessoas viviam em insegurança alimentar, sendo que 14,3 milhões enfrentavam um quadro de fome severa. Esses números mostram uma discrepância em relação aos dados utilizados pelo presidente, que, ao contrário do que afirmou, pode não refletir a realidade atual da fome no Brasil.