O presidente do partido Chega e principal nome da direita em Portugal, André Ventura, anunciou neste fim de semana que sua sigla pretende abrir uma investigação própria contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, Gilmar Mendes. A apuração, segundo Ventura, visa “mapear a influência, o patrimônio e a rede de interesses” do magistrado em território português.
A declaração foi feita nas redes sociais, onde o líder do Chega associou Gilmar Mendes ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de “ditadura”, afirmando que aliados do petista estariam “aparando golpes” em Portugal.
“Portugal não pode ser o quintal da corrupção latino-americana. Vamos investigar tudo: influência política, ligações empresariais e o real impacto das ações do ministro brasileiro em nosso país”, disse Ventura.
A declaração de Ventura surge às vésperas do Fórum Jurídico de Lisboa, evento anual organizado por Gilmar Mendes por meio do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa) — e apelidado irônica ou criticamente por opositores de “Gilmarpalooza”.
A edição de 2025 contará com a presença de seis ministros do STF, incluindo o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, além de Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, André Mendonça, Flávio Dino e o próprio Gilmar Mendes.
Empresas privadas com processos em andamento no STF também estarão representadas no evento, como Light, Eletrobras, Grupo Yduqs e, principalmente, o BTG Pactual, que enviará à capital portuguesa três de seus principais nomes: a sócia Bruna Marengoni, o diretor jurídico Bruno Duque e o chairman André Esteves — que já foi preso por ordem do próprio Supremo, mas teve o processo arquivado.
Acusações de conflito de interesses
O crescente prestígio do evento, somado à presença de executivos de empresas com ações em tramitação no STF, levanta questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse. Críticos acusam Gilmar Mendes de utilizar o fórum como uma vitrine política e institucional para estreitar laços com o setor privado — enquanto preside ou vota em decisões judiciais que envolvem os mesmos atores.
Em nota ao jornal O Estado de S. Paulo, a organização do fórum afirma que a escolha dos palestrantes é baseada em “critérios de relevância acadêmica e técnica” e que a curadoria é “plural e independente”. O BTG Pactual também nega patrocínio ao evento.
Não é a primeira vez que André Ventura ataca figuras do governo Lula. Durante a campanha eleitoral de 2024, o líder do Chega chegou a dizer que, se fosse eleito primeiro-ministro, prenderia o presidente brasileiro ao pisar em solo português. Em outro momento, afirmou que proibiria Lula de entrar em Portugal, pois o país “já tem corruptos demais”.
A iniciativa do Chega promete acirrar ainda mais a relação entre os setores conservadores portugueses e as autoridades brasileiras.