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quinta-feira, 24 julho, 2025
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Klaus Schwab é acusado de má conduta e uso indevido de recursos

Por Alexandre Gomes

Relatório interno cita assédio, favorecimento à mulher dele e interferência política

Uma investigação interna do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) mostrou que o fundador da entidade, Klaus Schwab, manteve um padrão de má conduta nos últimos dez anos. O relatório preliminar indica assédio moral, tratamento inadequado a funcionárias e uso indevido de recursos da organização por ele e sua mulher, Hilde Schwab.

A apuração começou em abril, depois da denúncia de um delator. Documentos confidenciais revisados pelo jornal estrangeiro Wall Street Journal e por fontes ligadas ao caso revelam que Schwab enviou mensagens sugestivas a uma executiva sênior. Em um e-mail de junho de 2020, escrito tarde da noite, Schwab perguntou: “Você sente que estou pensando em você?”.

Schwab, de 87 anos, deixou a direção do WEF durante o feriado da Páscoa e não ocupa mais cargo na entidade. Por meio de um porta-voz, ele rejeitou as conclusões da investigação, disse que sempre tratou mulheres com respeito e negou ter se beneficiado financeiramente. “Durante toda essa jornada, Hilde e eu nunca usamos o Fórum para enriquecimento pessoal”, declarou.

Em seu comunicado final, Schwab declarou: “Mesmo não fazendo mais parte da organização, espero profundamente que o Fórum continue sendo uma ponte confiável em um mundo dividido”.

Gastos de mais de US$ 1 milhão e presentes de luxo

O relatório diz que Schwab e Hilde acumularam mais de US$ 1,1 milhão em despesas de viagem suspeitas. Parte desse valor cobriu passagens de primeira classe para Hilde, que o acompanhava em viagens do Fórum sem exercer função oficial.

Os investigadores também apontaram cerca de US$ 63 mil em viagens a destinos como Veneza, Miami, Seychelles e Marrocos, com pouca ou nenhuma evidência de atividades profissionais. Além disso, Schwab teria recebido presentes, como conjuntos de chá russos, abotoaduras personalizadas da Tiffany e casacos de pele, em violação às políticas internas.

O relatório ainda cita 14 sessões de massagem pagas com cartões corporativos ou de funcionários. Schwab declarou que sempre orientou seus assistentes a cobrarem dele os valores correspondentes às massagens.

Segundo o relatório, o casal utilizou motorista custeado pelo Fórum em férias e incluiu na contabilidade institucional uma linha de telefone residencial e o celular da empregada doméstica em Genebra.

Schwab afirmou que o motorista também prestava serviço de segurança e que o uso se justificava por razões de proteção. Disse ainda que os gastos com telefone se explicam pela quantidade de compromissos do Fórum realizados em sua residência.

O escritório suíço Homburger conduz a investigação, que deve apresentar a versão final até o fim de agosto ao conselho do Fórum e também às autoridades suíças. O grupo também estuda encaminhá-lo ao Ministério Público.

Schwab disse que seu salário era de 1 milhão de francos suíços (equivalente a cerca de US$ 1,3 milhão) por ano, além de uma verba adicional de 100 mil francos para jantares e eventos com convidados em sua residência. Ele afirmou que confiava aos assistentes a separação entre despesas pessoais e profissionais, e prometeu reembolsar o Fórum por eventuais gastos indevidos.

Relatório diz que Schwab discriminava mulheres

A denúncia deste ano ocorreu quase um ano depois do Wall Street Journal revelar que o Fórum mantinha uma cultura tóxica para mulheres e funcionários negros. A nova apuração encontrou mais evidências nessa linha. Investigadores relataram que Schwab teria afastado mulheres grávidas ou com mais de 40 anos, prejudicando suas carreiras e saúde mental.

Schwab declarou que sempre tratou mulheres com respeito. Sobre o e-mail de 2020 enviado a uma funcionária, afirmou que esse tipo de comunicação “não reflete meu caráter”. Acrescentou que tratava o Fórum como uma família e que se via como “uma figura paterna para muitos jovens funcionários”.

Mais de 50 pessoas foram entrevistadas até o início de julho, entre atuais e ex-funcionários. A nova investigação teve início depois que conselheiros do Fórum informaram a Schwab que abririam apuração sobre novas denúncias que envolviam ele e sua mulher. Schwab reagiu com firmeza, disse que já havia passado por uma investigação anterior e ameaçou investigar os próprios conselheiros e os delatores.

A investigação anterior, conduzida pelo ex-procurador-geral dos Estados Unidos Eric Holder, levou a mudanças na estrutura da organização e à saída de executivos. No entanto, Schwab não foi responsabilizado. Na ocasião, o Fórum declarou que as acusações contra ele “não foram comprovadas”.

Parte do escândalo se tornou pública, o que gerou constrangimento para a entidade. Schwab era considerado o principal porta-voz de uma organização que sempre defendeu boas práticas de governança e responsabilidade social.

Manipulação de rankings globais

O novo relatório também afirma que Schwab interferiu diretamente no Relatório de Competitividade Global, uma das publicações mais importantes do Fórum, que classifica países com base em critérios como estabilidade financeira e combate à corrupção.

Em um dos episódios, Schwab pressionou a equipe para melhorar a nota da Índia, por conta de sua relação próxima com o primeiro-ministro indiano. Também pediu a redução da pontuação do Reino Unido, com receio de que os defensores do Brexit comemorassem a ascensão do país no ranking.

Schwab disse, por meio do porta-voz, que só intervinha nas pesquisas do Fórum “quando necessário para proteger a integridade” dos relatórios.

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