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terça-feira, 1 outubro, 2024
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Europa em crise e ainda terá milhões de refugiados à porta

Por Marina B.

A escalada do conflito entre Gaza e Israel está exacerbando as já terríveis condições econômicas no Egito, no Líbano e na Jordânia. Com esses países à beira do colapso, as potências ocidentais, especialmente a União Europeia, podem enfrentar outra crise de refugiados, independentemente do nível de assistência que ofereçam.

Nos últimos quatro meses, quase supostamente 29 mil palestinos foram mortos na ofensiva israelense em Gaza, em resposta a um ataque do Hamas em solo israelense, que resultou em 1.200 mortes. No entanto, os impactos desse conflito se estendem muito além dos campos de batalha, agravando crises sociais e econômicas de longa data nos países vizinhos.

O Egito e o Líbano estão atolados em dívidas. A proporção da dívida em relação ao PIB desses dois países atingiu 93% e 280%, respectivamente, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. E as coisas estão prestes a piorar. As receitas do turismo, essenciais para as economias da região, despencaram em 45% no Líbano em outubro, em comparação com o ano anterior. Se o conflito persistir por mais três meses, estima-se uma perda de 10 bilhões de dólares no PIB combinado do Líbano, Egito e Jordânia. Esse valor aumentaria para 18 bilhões de dólares, ou 4% do PIB combinado, se o conflito se arrastasse até o verão, segundo avaliação recente de agências internacionais de desenvolvimento. Durante o mesmo período, mais de meio milhão de pessoas nesses três países podem cair na pobreza, conforme relatado.

A crise atual no Líbano remonta pelo menos a 2020, quando uma explosão no porto de Beirute matou mais de 200 pessoas. Desde então, a lira libanesa perdeu cerca de 98% de seu valor em relação ao dólar no mercado paralelo, e a inflação de três dígitos dizimou os rendimentos. O PIB do país diminuiu mais da metade entre 2019 e 2022, e o Banco Mundial prevê uma contração de até 0,9% em 2023, devido à guerra. O contínuo deslocamento de pessoas na fronteira sul do Líbano com Israel, junto com o fechamento de escolas e infraestruturas públicas danificadas, pode resultar em um declínio ainda maior do PIB, aumento da inflação, desemprego generalizado e milhões de pessoas precisando de assistência urgente, conforme alertou o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Apesar disso, o governo bloqueou as reformas financeiras e públicas que havia prometido para desbloquear bilhões de dólares em ajuda do FMI. Isso levou o organismo multilateral a advertir que o país enfrentará uma “crise sem fim” sem tais reformas. Sem essas mudanças, a dívida pública poderá atingir 547% do PIB até 2027, previu o FMI.

A situação no Egito é igualmente preocupante, com resistência semelhante às reformas econômicas por parte da administração do Presidente Abdel Fattah al-Sisi. As receitas do Canal de Suez, uma importante fonte de divisas, caíram quase pela metade em janeiro, em comparação com o mesmo período do ano anterior, devido aos ataques dos rebeldes Houthis a navios comerciais. Além disso, a falta crônica de confiança dos investidores resultou em saídas significativas de capital, agravando ainda mais a crise cambial.

As agências internacionais estão correndo para evitar uma crise total. Em dezembro de 2022, o FMI aprovou seu quarto empréstimo ao Egito, totalizando 3 bilhões de dólares ao longo de 46 meses. Mais de um ano depois, há rumores de que o empréstimo precisará ser aumentado, apesar de parte da ajuda ter sido retida devido às reformas atrasadas do governo.

Um desafio ainda maior está no controle militar sobre o setor privado. O exército detém empresas de água engarrafada, laticínios, postos de gasolina e até mesmo agências de inteligência adquiriram empresas de comunicação locais. Para satisfazer o FMI, o governo sugeriu vender algumas dessas empresas, mas grandes partes do império militar permaneceram intocadas.

Tudo isso coloca a Europa em uma posição delicada. A retenção de ajuda vital a países considerados grandes demais para falir devido a elites corruptas, poderia desencadear outra crise que ninguém pode se dar ao luxo de enfrentar. Por isso, a UE está pressionando para finalizar um pacote de empréstimos com o Egito, que incluirá fundos para garantir que os deslocados da guerra em Gaza e a instabilidade regional não cheguem às suas costas.

Mas acordos semelhantes com Marrocos e Tunísia para terceirizar a gestão da migração, até agora não conseguiram conter o fluxo de refugiados. Entre janeiro e novembro de 2023, a Europa recebeu mais de um milhão de pedidos de asilo, enquanto o número de cidadãos egípcios buscando asilo dobrou entre 2021 e 2022. Em dezembro passado, cerca de 5.600 refugiados, principalmente da Palestina, Síria e Afeganistão, chegaram à Grécia, um aumento de 150% em relação ao ano anterior, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Essas estatísticas evocam a crise dos refugiados sírios de 2015-2016, que desempenhou um papel importante no reforço do caso para a saída da Grã-Bretanha da UE em um referendo de 2016, como estudos acadêmicos posteriormente mostraram.

Desta vez, um novo fluxo de deslocados pode beneficiar os partidos populistas, que já estão projetados para ganhar nas eleições para o Parlamento Europeu em junho. As últimas pesquisas sugerem que quase metade dos assentos no Parlamento Europeu serão ocupados por eurodeputados fora dos três maiores grupos centristas, mudando o equilíbrio de poder no Parlamento e influenciando a política da UE em questões que vão desde assuntos externos até as tais mudanças climáticas.

Os líderes humanitários tentam minimizar os riscos de um novo aumento de refugiados, argumentando que a situação atual, embora grave, provavelmente será contida na região. O Egito está construindo uma cerca de segurança no Sinai, para se preparar para um possível influxo repentino de refugiados. No entanto, com as forças militares israelenses se preparando para avançar em Rafah, no sul de Gaza, onde mais de um milhão de palestinos buscam refúgio, os governos europeus precisam se preparar para a possibilidade de suas políticas atuais não serem suficientes para evitar outra crise, mesmo após o fim do conflito.

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