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sábado, 12 outubro, 2024
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Estratégia de poder: China adquire ouro para fortalecer reservas e influenciar o mercado

Por Marina B.

A desconfiança em relação à economia dos EUA e a forte atuação dos bancos centrais para reforçar suas reservas impulsionaram o ouro a atingir seu maior valor histórico. O preço do metal precioso, que fascina a humanidade há milênios e foi padrão monetário até meados dos anos 70, ultrapassou a marca de US$ 2,4 mil (R$ 12,36 mil) por onça-troy (31,1 gramas) neste mês. Analistas e especialistas do mercado preveem que a cotação poderá alcançar US$ 2,5 mil (R$ 12,87 mil) e possivelmente subir ainda mais este ano.

A atuação de bancos centrais, especialmente o chinês, para ampliar seus estoques de ativos tangíveis tem sido um grande suporte para a alta do ouro. O Banco Popular da China comprou ouro pelo 17º mês consecutivo, acumulando reservas que totalizam quase 2.300 toneladas, pouco mais de um quarto das reservas dos EUA. Somente no ano passado, o banco chinês adquiriu mais de 200 toneladas. Mesmo sendo o maior produtor mundial, a China é o principal importador de ouro, influenciando fortemente o mercado.

O ouro, também conhecido como metal amarelo, é altamente sensível a incertezas geopolíticas. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, o cenário geopolítico tornou-se mais tenso, ganhando nova pressão com os eventos no Oriente Médio em 7 de outubro de 2023, envolvendo Israel, grupos extremistas e o Irã. Esses eventos fazem os investidores buscarem segurança no ouro. A cotação subiu 18% entre 1º de março e 12 de abril, cerca de US$ 400 (R$ 2.060), devido à escalada das tensões no Oriente Médio.

“O que impulsiona o preço do ouro no mercado internacional é o aumento da inflação mundial, principalmente nos EUA, o aumento do risco geopolítico, o aumento das reservas nos bancos centrais de vários países e a exaustão de grandes minas de ouro, restando minas marginais de custo mais elevado,” resume Mathias Heider, engenheiro de minas e especialista em recursos minerais da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Especialistas observam que a inflação persistente, a emissão massiva de dívida e a impressão desenfreada de moeda pelo banco central americano (Fed), juntamente com o aumento da dívida pública dos EUA, estão levando investidores a procurar metais preciosos e outras commodities. Nos últimos dois anos, o ouro tem sido a commodity metálica mais valorizada, e sua cotação, que iniciou uma trajetória ascendente em 2018, acelerou após a pandemia de COVID-19 em 2022. Na semana passada, a cotação atingiu US$ 2.417 (R$ 12,447 mil) por onça-troy.

Durante a pandemia, ocorreu uma mudança macroeconômica significativa: muitos governos adotaram políticas fiscais e monetárias indisciplinadas, resultando em inflação crônica e desglobalização, afirma Otávio Costa, sócio do fundo Crecast Capital, baseado na Califórnia, EUA. Ele vê um momento excepcional para metais preciosos e outros metais como prata, cobre e zinco.

A perspectiva de longo prazo sugere um ciclo de cinco a dez anos de preços elevados para o ouro e outros metais preciosos, impulsionado pela indisciplina fiscal e monetária e pela busca dos bancos centrais por ativos reais. Hoje, menos de 25% dos ativos dos bancos centrais são ouro, em comparação com cerca de 75% nas décadas de 1970 e 1980, destaca Costa.

A alta inflação nos países desenvolvidos – EUA, Canadá e Europa – é um fator crucial. “Em 45 anos, o Tesouro americano mostra mais volatilidade que o preço do ouro,” observa Costa. O mercado da mineração enfrenta uma deterioração das minas atuais, escassez de novas descobertas e redução nos gastos com novos projetos, o que deve criar um ciclo de longo prazo na mineração, diz o investidor.

Rodrigo Barbosa, presidente da Aura Minerals, destaca que o déficit fiscal dos EUA, as taxas de juros elevadas, as incertezas geopolíticas e a atuação da China fortalecem o cenário de alta do ouro. A Aura Minerals, que opera no Brasil, México e Honduras, está expandindo suas operações com novos projetos, como Almas, no Tocantins, Borborema, no Rio Grande do Norte, e Matupá, no Mato Grosso. Com a cotação atual do ouro, a taxa de retorno de projetos como Borborema praticamente dobra.

O setor de mineração de ouro trabalha com um preço base de US$ 1,8 mil (R$ 9,27 mil) para decidir novos investimentos, considerando o custo de produção e a quantidade de ouro extraído. Atualmente, a média na mineração industrial é de 1 grama de ouro por tonelada de rocha moída.

No Brasil, o setor de mineração de ouro está ativo com vários projetos em desenvolvimento. Mathias Heider, da ANM, afirma que o país possui projetos que devem adicionar cerca de 20 toneladas anuais à produção brasileira nos próximos cinco anos. A produção atual, combinando mineradoras e lavra garimpeira legalizada, é de 90 toneladas. Com a alta da cotação do ouro, empresas buscam acelerar seus projetos, realizar aquisições e fusões, e reativar projetos suspensos.

A produção brasileira de ouro é liderada pela canadense Kinross, seguida por Anglo Gold Ashanti, Pan American Silver, Jaguar, Aura Minerals, Equinox e Nx Gold. A Vale, com extração de cobre em Carajás, é também uma grande produtora de ouro. Cerca de 90% do ouro produzido no Brasil é exportado, gerando US$ 3,5 bilhões (R$ 18,025 bilhões) em divisas no ano passado, fazendo do ouro o segundo item mineral mais exportado, atrás apenas do minério de ferro.

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