Fluxo migratório aumenta enquanto a região vive pressão estratégica crescente
A intensificação das operações militares dos norte-americanos no Caribe, nos últimos meses, coincide com a ampliação do fluxo de venezuelanos para o Brasil. Registros oficiais mostram que a entrada de cidadãos do país vizinho acelerou entre agosto e setembro, exatamente no período em que a mobilização ordenada pelo presidente Donald Trump avançou no entorno das rotas marítimas usadas por grupos ligados ao tráfico.
De janeiro a setembro, quase 148 mil venezuelanos cruzaram a fronteira brasileira. No mesmo intervalo, mais de 71 mil registros de saída foram identificados pelo Observatório de Migrações Internacionais (OBMigra), vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. O salto começou em agosto, quando o Pentágono enviou navios de guerra e cerca de 4 mil militares para a região. Naquele mês, a Polícia Federal registrou cerca de 13 mil entradas, mas apenas 7 mil saídas.
Fluxo aumenta no período de bombardeios
A pressão continuou em setembro, fase em que Washington executou o primeiro bombardeio contra uma embarcação no mar do Caribe classificada como ligada ao tráfico internacional. O movimento nas fronteiras brasileiras seguiu a mesma curva: mais de 18 mil venezuelanos chegaram ao país, e só 8 mil deixaram o território nacional.
Os pedidos de refúgio avançaram no mesmo período. Segundo a OBMigra, quase 16 mil solicitações foram formalizadas entre agosto e setembro, consolidando a Venezuela no topo das demandas acolhidas pelo Brasil.
A ofensiva militar inclui o deslocamento de caças F-35, de navios de guerra e do USS Gerald R. Ford, maior porta-aviões em operação no mundo. Washington sustenta que a estratégia busca conter narcoterroristas possivelmente ligados ao regime ditatorial de Nicolás Maduro.
Roraima é o principal destino dos venezuelanos
Compartilhando cerca de 2,1 mil quilômetros de fronteira com a Venezuela, Roraima segue como principal rota de chegada dos refugiados. Do total acumulado no ano, mais de 74 mil entradas ocorreram no estado.
A Operação Acolhida, criada em 2018 pelo governo federal, contabilizou 15,3 mil venezuelanos que buscaram apoio humanitário ao chegar a Pacaraima e Boa Vista. A pressão migratória, alinhada ao avanço das ações militares no Caribe, mantém o Norte do país como a porta de entrada mais afetada pela crise na região.