As ambições da Ucrânia de aderir à União Europeia (UE) podem enfrentar obstáculos no segundo semestre deste ano, período em que a Hungria assumirá a presidência rotativa do Conselho da UE.
A primeira rodada de conversações entre a UE e a Ucrânia ocorrerá em 25 de junho, após a aprovação do quadro geral de negociações pelos Estados-membros. No entanto, as aspirações da Ucrânia não são uma prioridade para o governo de Viktor Orbán, que definirá a agenda semanal e presidirá às reuniões ministeriais em Bruxelas a partir de 1º de julho.
O governo húngaro terá um papel central na decisão dos temas prioritários. O slogan oficial da presidência rotativa húngara será “Make Europe Great Again” (Tornar a Europa Grande Novamente), em clara homenagem ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que está em campanha com essa frase para as eleições de novembro.
Essa postura gerou desconforto entre os diplomatas da UE, que temem que o primeiro-ministro húngaro utilize sua posição para promover suas opiniões nacionalistas e de extrema-direita.
János Bóka, ministro dos Assuntos Europeus da Hungria, deixou claro que durante a presidência húngara, a questão da abertura dos capítulos de adesão para a Ucrânia não será levantada.
A política do bloco em relação à Ucrânia, que Orbán tem contestado e às vezes bloqueado com seu veto no Conselho Europeu, corre o risco de ser prejudicada. O governo de Budapeste revelou seu programa oficial da presidência, confirmando algumas dessas preocupações.
O programa faz várias referências à Ucrânia em contextos econômicos, de integridade territorial, reconstrução, segurança, refugiados, crimes de guerra e liberdade de circulação, mas não no contexto do alargamento da UE.
Orbán tem se queixado da falta de proteção da minoria húngara na Ucrânia, apesar de alterações na legislação ucraniana sobre educação e línguas minoritárias.
Este tom contrasta com o da Bélgica, atual detentora da presidência rotativa, que avançou na candidatura de adesão da Ucrânia. Na semana passada, a Bélgica conseguiu a unanimidade necessária para aprovar o quadro de negociações para a Ucrânia e a Moldova, que a Hungria havia bloqueado, permitindo a realização da primeira conferência intergovernamental com a Ucrânia em 25 de junho.
Bóka afirmou que a Hungria pretende focar o alargamento nos Balcãs Ocidentais, desviando a atenção política da Ucrânia. Ele disse que a abertura de novos capítulos para Kiev não será abordada nos próximos seis meses.
A política de alargamento está sujeita ao princípio da unanimidade, permitindo que um único país impeça uma decisão acordada pelos outros 26 Estados-membros. Orbán tem utilizado este princípio para obter concessões e bloquear acordos, especialmente em relação à Ucrânia e à Rússia.
A Hungria atualmente impede o desbloqueio de 6,6 bilhões de euros em assistência militar da UE à Ucrânia, um impasse iniciado em maio do ano passado sem sinais de resolução.
O porta-voz internacional do governo húngaro, Zoltán Kovács, afirmou que a Hungria não usará seu poder de veto durante sua presidência da UE, o que poderia agravar seriamente as tensões entre a Hungria e seus pares. O ministro dos Assuntos Europeus prometeu que o país atuaria como um “mediador honesto” e trabalharia “com lealdade”, representando uma visão alternativa da Europa.
Sobre os cargos de topo da UE, Bóka reafirmou a oposição da Hungria à reeleição de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia, mas não objetou às candidaturas de António Costa (Conselho Europeu) e Kaja Kallas (Alto Representante para Política Externa e Segurança). Espera-se que os líderes alcancem um acordo em 27 de junho.
