A postura do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aumentar tarifas de importação para países que considera desalinhados com a política americana, reacendeu alertas no Brasil. Recentemente, Trump anunciou a possibilidade de elevar tarifas sobre produtos colombianos como retaliação à postura do presidente colombiano Gustavo Petro em relação à deportação de imigrantes ilegais. O Brasil, em uma situação semelhante, pode enfrentar riscos de sobretaxas que afetariam drasticamente sua economia.
Trump demonstrou que está disposto a usar tarifas como ferramenta política. No caso colombiano, a ameaça de elevar impostos de 25% para 50% sobre produtos importados quase se concretizou até que Petro recuasse e aceitasse as condições impostas pelos EUA para a deportação de imigrantes.
No Brasil, o cenário é agravado por questões como a decisão de utilizar moedas alternativas ao dólar em transações comerciais com os países do BRICS, a tributação de multinacionais em conformidade com regras globais e a acusação de lawfare no sistema judicial brasileiro.
O impacto para a economia brasileira
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, o comércio bilateral alcançou um volume recorde de US$ 80,9 bilhões, com exportações brasileiras totalizando US$ 40,3 bilhões. Um aumento de tarifas poderia causar danos significativos, principalmente em setores como agronegócio, indústria extrativa e aviação.
Entre os produtos mais exportados estão petróleo e derivados (14%), produtos semiacabados de aço (8,8%), aeronaves e equipamentos (6,7%) e café não torrado (4,7%). Um aumento nos impostos americanos sobre esses itens prejudicaria tanto exportadores quanto consumidores brasileiros e americanos.
– “Seria ruim para serviços, indústrias e, principalmente, consumidores nos EUA. Mas, para o Brasil, as consequências seriam ainda mais severas”, afirma Arno Gleisner, diretor da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra).
Agronegócio na mira
A carne bovina brasileira, que já enfrenta uma tarifa elevada de 26,5% nos EUA, poderia ser ainda mais taxada. Atualmente, os EUA são o segundo maior destino de exportação da carne brasileira, representando 8,8% dos embarques. Apesar das barreiras existentes, a demanda americana por carne brasileira tem crescido, impulsionada pela necessidade de complementar sua produção local.
Para Arthur Pimentel, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o agronegócio seria um dos setores mais prejudicados por uma guerra tarifária.
– “Será necessário inovar nas estratégias de logística e distribuição para minimizar os impactos”, alerta.
Os riscos diplomáticos
Além das questões comerciais, as tensões diplomáticas entre os dois países têm aumentado. O Brasil recentemente criticou os métodos de deportação dos EUA, alegando tratamento degradante aos imigrantes brasileiros. A chancelaria brasileira solicitou esclarecimentos, mas a resposta dos EUA ainda não veio.
Outra fonte de atrito é a política brasileira de alinhamento com o BRICS e a proposta de moedas alternativas ao dólar, uma medida que Trump já declarou ser motivo suficiente para sobretaxar parceiros comerciais.
O Brasil precisa manter um equilíbrio estratégico para evitar atritos que comprometam sua posição como parceiro comercial dos EUA. Especialistas apontam que a diplomacia é a chave para mitigar riscos de tarifas.
– “É fundamental priorizar soluções que protejam a estabilidade econômica e o comércio bilateral”, afirma Gleisner.
Além disso, a estratégia de nearshoring, adotada pelos EUA para reduzir dependência de fornecedores asiáticos, pode beneficiar o Brasil, desde que o país consiga manter uma relação comercial sólida com os americanos.
O governo brasileiro deve agir com cautela para evitar entrar na mira de Donald Trump e suas tarifas. Reuniões diplomáticas e estratégias comerciais bem planejadas serão cruciais para manter a competitividade do Brasil no mercado internacional e preservar o relacionamento com o segundo maior parceiro comercial do país.
A ameaça de sobretaxas, como já visto na Colômbia, destaca a necessidade de uma política externa equilibrada e orientada para preservar os interesses econômicos e políticos do Brasil.