Cerca de 373 milhões de europeus poderão ir às urnas para eleger 720 membros do próximo Parlamento Europeu na eleição que começa nesta quinta-feira (6) e vai até domingo (9).
Com os votos do bloco de 27 nações contabilizados, espera-se que os resultados indiquem uma mudança significativa para a direita, o que poderá ter importantes implicações para a direção política da União Europeia.
Desde a guerra na Ucrânia até a crise migratória, passando pela ascensão da China e as ameaças climáticas, é difícil imaginar um bloco tão diverso falando com uma só voz. No entanto, a política da UE sempre se baseou em alianças entre países e ideologias políticas que representam eleitorados variados.
Nas últimas duas décadas, o centro político do bloco tem se deslocado para a direita.
A maioria dos eurodeputados pertence a partidos políticos de seus próprios países. Ao entrar no Parlamento Europeu, em Bruxelas, eles se juntam a grupos políticos multinacionais com interesses semelhantes. Esses grupos formam coligações que normalmente resultam em um agrupamento majoritário de centristas de centro-esquerda, centro-direita e liberais.
A mudança gradual do centro político para a direita é evidente. Em 1994, o principal grupo socialista, S&D, tinha o maior número de deputados europeus. Em 1999, foi ultrapassado pelo Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita.
O PPE, descrito como conservador nos moldes da ex-chanceler alemã Angela Merkel, tem sido a força dominante na política da UE desde então. Embora o partido tenha liderado uma coalizão centrista dominante com a esquerda e os liberais a nível europeu, os eurodeputados ainda enfrentam dificuldades para conciliar a política interpartidária da UE com a política interna de seus próprios países.
Embora se espere que os grupos de direita Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e de direita Identidade e Democracia (ID) terminem em quarto e quinto lugar, respectivamente, em termos de número de assentos, seu total combinado, que pode ser superior a 140, será difícil para o PPE ignorar, de acordo com o Politico Poll of Polls.
A estimativa atual é que o PPE conquiste 165 assentos, contra 143 para o S&D socialista.
O ECR e o ID são partidos do Parlamento Europeu com um grupo bastante amplo de conservadores. O ECR, por exemplo, foi fundado pelo ex-primeiro-ministro britânico David Cameron, que fez campanha contra o Brexit. Sua atual presidente é a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, conhecida por sua oposição aos direitos LGBTQ+, suas promessas de conter a migração e sua retórica antiglobalista. No entanto, desde sua eleição, Meloni tem adotado uma política mais moderada e apoiado várias iniciativas importantes da UE, incluindo o apoio à Ucrânia.
O ID também tem buscado moderar sua imagem, recentemente expulsando o partido alemão de direita AfD após comentários controversos de um de seus deputados.
Com uma ampla variedade de opiniões dentro do ECR e do ID, as correntes políticas e o desejo de influência podem resultar em alianças inusitadas na política europeia.
Embora seja improvável que o PPE esteja disposto a trabalhar diretamente com o ID em um futuro próximo, isso não significa que não terão importância.
Questões como migração, alterações climáticas, segurança das fronteiras, despesas militares e o Estado de direito continuarão sendo pontos críticos na política pan-europeia. O Parlamento recém-eleito examina e aprova a composição da Comissão Europeia, o órgão executivo da UE.
Espera-se que o apoio à Ucrânia seja mantido, com os grupos pró-Kremlin isolados. Porém, quase todas as outras questões serão tratadas caso a caso, e quanto mais eurodeputados eleitos estiverem à direita do PPE, mais sua influência poderá crescer ao longo do tempo.
Cinco anos é muito tempo em política, e é esse o período de mandato deste Parlamento.
Durante esse tempo, a França realizará uma eleição na qual Marine Le Pen, afiliada ao ID, poderá vencer com seu partido Rally Nacional. Espera-se que Geert Wilders, também do ID, forme um governo na Holanda, após emergir como o maior partido nas eleições de novembro.
Em outras palavras, a política interna nos Estados-membros poderá deslocar-se ainda mais para a direita, alterando os cálculos em Bruxelas.
O Parlamento Europeu pode parecer uma bolha burocrática, mas a UE é um ator geopolítico cada vez mais influente, capaz de impor sanções a figuras políticas russas e chinesas, fornecer fundos à Ucrânia e utilizar seu peso econômico como o maior bloco comercial do mundo na diplomacia.
Se o seu centro político estiver de fato deslocando-se para a direita, sua influência terá consequências significativas e possivelmente de longo alcance para as pessoas além das fronteiras da Europa.
Enfim parece que os europeus acordaram e viram o estrago que a esquerda fez na Europa.