Milhares de agricultores britânicos planejam marchar até a Praça do Parlamento na terça-feira para protestar contra o fim da isenção de imposto sobre herança, que permitia que fazendas familiares fossem transmitidas de geração em geração sem a cobrança de impostos. Eles argumentam que essa medida prejudicará a produção de alimentos.
Em outubro, a ministra das Finanças, Rachel Reeves, anunciou que, a partir de 2026, os agricultores com propriedades avaliadas em mais de 1 milhão de libras (aproximadamente US$ 1,26 milhão) não poderão mais deixar suas fazendas para os filhos sem pagar impostos sobre herança. A mudança foi proposta como uma forma de arrecadar fundos para serviços públicos.
A resistência ao chamado “imposto sobre tratores” é parte de um movimento maior contra as propostas fiscais de Reeves. Algumas das maiores empresas do Reino Unido alertaram que os aumentos nas contribuições previdenciárias para empregadores poderiam agravar a inflação.
Os agricultores afirmam que a medida comprometerá a sustentabilidade das fazendas familiares, que normalmente têm margens de lucro baixas. Eles temem que seus filhos sejam forçados a vender terras para arcar com os impostos, o que pode impactar negativamente a produção de alimentos.
Os organizadores estimam que até 20.000 fazendeiros possam participar do protesto em Londres. O apresentador de TV e agricultor Jeremy Clarkson é esperado no evento.
Reeves reconheceu a força da oposição, mas afirmou que as mudanças afetariam apenas as propriedades mais valiosas, ajudando a financiar escolas e serviços de saúde essenciais para as comunidades rurais, incluindo os próprios agricultores.
Embora o protesto seja descrito como pacífico, com crianças dirigindo tratores de brinquedo, os organizadores alertaram que novos protestos podem surgir caso o governo não recuada na decisão.
Clive Bailye, um fazendeiro da região central da Inglaterra e um dos organizadores do protesto, mencionou que alguns agricultores desejam adotar uma postura mais combativa, fazendo referência às ações mais enérgicas dos fazendeiros franceses.
Alguns agricultores já ameaçaram entrar em greve ou interromper o fornecimento de alimentos, citando a concorrência injusta com produtos importados mais baratos, que não precisam cumprir os mesmos requisitos ambientais e de bem-estar. Além disso, suas receitas têm sido pressionadas pelos preços praticados pelos supermercados e pelas mudanças climáticas.
O governo, por sua vez, afirmou que a alteração tributária afetará apenas cerca de 500 fazendas por ano, com a taxa de imposto para essas propriedades fixada em 20% (ao invés de 40%) e podendo ser paga em parcelas ao longo de 10 anos.
“Entendo que isso causa preocupação, mas estou confiante de que a maioria das fazendas não será impactada por essa parte do orçamento”, declarou o primeiro-ministro Keir Starmer, que está participando da cúpula do G20 no Brasil, em resposta a perguntas sobre a mudança tributária. Ele acrescentou que o setor agrícola receberá 5 bilhões de libras em apoio do governo nos próximos dois anos.