A Foxit removeu clientes do governo dos EUA do site quando solicitada a comentar
A Foxit, uma grande empresa de software PDF fundada na China, removeu qualquer menção aos seus vários clientes do governo dos EUA de seu site depois que a Fox News Digital começou a fazer perguntas sobre seus laços governamentais e conexões chinesas.
A empresa desenvolve softwares em PDF para leitura, edição e assinatura de documentos, com clientes que vão desde empresas a agências americanas. A Foxit foi fundada em 2001 em Fuzhou, China, por Eugene Xiong. Sua controladora — Fujian Foxit Software Development Joint Stock Co., Ltd. — é negociada na bolsa de valores de Xangai e administra uma subsidiária americana com sede em Fremont, Califórnia.
Até a Fox News Digital começar a pressionar a Foxit sobre seus antecedentes, o site da empresa promovia clientes em todo o governo federal — da Agência de Defesa de Mísseis (MDA) e Departamento de Estado ao Exército, Marinha, Força Aérea, Departamento de Segurança Interna (DHS), Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), tribunais dos EUA e o Departamento de Transportes.
Mas, após o pedido de comentário da Fox News Digital, a Foxit removeu qualquer menção a clientes do governo dos EUA de seu site. A empresa não respondeu às perguntas.
Ao longo dos relatórios, diversas agências confirmaram que removeram produtos da Foxit ou não mantiveram mais contratos ativos com a subsidiária americana da Foxit.
Um porta-voz da MDA afirmou que o Foxit havia sido usado em uma rede isolada, “não conectada a nenhum sistema operacional de defesa antimísseis”, mas que “não está mais em nenhum sistema da MDA”. O porta-voz não informou quando o Foxit foi removido de seus sistemas, mas acrescentou que a equipe responsável pela decisão inicial de usar o software não está mais na agência e que uma revisão atualizada de todo o software está em andamento.
Uma fonte do Departamento de Estado disse que pequenos contratos com a Foxit existiram no passado, mas foram encerrados, embora não tenha esclarecido quando.
Antes da limpeza do site, a Foxit chegou a publicar “estudos de caso” sobre o trabalho com os Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA e a FDA. Uma fonte do DHS, no entanto, disse à Fox News Digital que a Foxit agora está “especificamente identificada e listada em nossa lista de softwares proibidos”.
A FDA lida com segredos comerciais, dados sensíveis de ensaios clínicos e até mesmo informações de saúde relacionadas à biodefesa. A agência não retornou um pedido de comentário sobre se ainda utiliza o Foxit.
O Departamento de Justiça também confirmou que o Foxit foi removido de suas redes no ano passado após uma revisão de segurança.
Outras agências, incluindo o Gabinete do Secretário de Defesa (OSD) e os Institutos Nacionais de Saúde, reconheceram ter recebido perguntas da Fox News Digital, mas não confirmaram o uso atual.
É difícil rastrear a Foxit em registros disponíveis publicamente: as compras governamentais podem ser registradas como distribuidores, integradores ou revendedores, e não como a própria empresa.
A Fox News Digital identificou dezenas de solicitações — documentos emitidos por agências federais ao buscar licitações para bens e serviços — que mencionavam especificamente o software Foxit, do Exército, da Marinha, do NIH, da NASA, do Departamento de Defesa e da Administração de Serviços Gerais. Não está claro quais dessas solicitações se transformaram em contratos finalizados.
Um contrato conhecido da Foxit com a OSD expirou em 2023.
Em seu site nos EUA, a Foxit enfatiza sua sede na Califórnia e seu alcance “global”, sem mencionar sua listagem na China. Em seu site em chinês, no entanto, a Foxit destaca clientes como o Ministério das Relações Exteriores da China, o Escritório Estatal de Propriedade Intelectual e o Comitê Nacional de Normas. Em 2023, anunciou uma parceria com o China Media Group, que opera sob o Departamento de Publicidade do Partido Comunista Chinês.
Seu site chinês lista escritórios em Fuzhou, Pequim, Nanquim e Hefei.
As agências americanas normalmente contratam por meio da Foxit Software Inc., sediada na Califórnia, e não da matriz chinesa, o que permite que a Foxit se apresente como uma empresa sediada nos EUA. Ainda assim, a matriz da Foxit permanece sujeita à legislação chinesa — incluindo a Lei Nacional de Inteligência de 2017, que obriga as empresas a auxiliar a inteligência chinesa, se solicitado.
Um analista questionou se a separação corporativa poderia isolar totalmente a subsidiária americana dos interesses da matriz chinesa.
“Parece especialmente semelhante ao argumento do TikTok. Estamos fazendo tudo aqui, todos os dados estão localizados aqui, temos o TikTok USA. Somos uma empresa de Singapura, não temos relações com a China continental – exceto pela nossa estrutura corporativa, que é quase totalmente de propriedade de uma empresa com sede na China”, disse Joel Thayer, advogado especializado em tecnologia e telecomunicações em Washington.
“As empresas chinesas são mestras em esconder suas intenções por meio de registros corporativos e infraestrutura corporativa”, disse ele.
A Foxit conta com a Idax.ai como sua subsidiária, uma empresa especialmente desenvolvida para redigir documentos confidenciais. “As soluções de IA da empresa são voltadas para profissionais de diversos setores, incluindo saúde, finanças, imobiliário, direito e governo”, de acordo com um comunicado de conteúdo de marca publicado no NY Weekly.
A Fox News Digital não conseguiu determinar se o Idax foi usado por agências governamentais.
A Foxit afirma ter 750 milhões de usuários e mais de 425.000 clientes ao redor do mundo, com centros de negócios não apenas nos EUA e na China, mas também no Japão, Europa e Austrália, com planos de expansão para Rússia, Brasil e Índia.
Críticos alertam que até mesmo dados aparentemente rotineiros podem ter valor de inteligência.
“Mesmo que a Foxit não esteja sendo usada para documentos secretos, as informações que a empresa poderia coletar seriam inestimáveis para o PCC”, disse Thayer.
“Você está basicamente apostando que a plataforma não está por trás do véu, coletando uma quantidade imensa de dados sobre quais contratos e serviços estão sendo fornecidos ao nosso governo”, disse ele.
A Foxit se posicionou originalmente como uma alternativa mais barata ao Adobe Acrobat. Mas analistas de tecnologia da China alertam que o desconto pode trazer riscos ocultos.
“Essa é uma informação inestimável para qualquer um dos nossos adversários : quanto vale um contrato, quais serviços estão sendo prestados, quais tecnologias eles estão considerando, para que estão contratando pessoas, o que o governo está investigando… os concorrentes matariam por essas informações”, disse Thayer.
