Abeer, que pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome, está atualmente abrigada no campo de refugiados de Nusseirat, no centro de Gaza. Dez meses após o início da guerra, com novas negociações de cessar-fogo em andamento em Doha e Cairo, é difícil para palestinos como ela saber em quem ou no que acreditar.
“As pessoas estão muito cansadas, exaustas e fartas dessa realidade. Elas só esperam que a guerra acabe e que anunciem um cessar-fogo”, afirmou.
Mediadores do Catar, do Egito e dos EUA estão trabalhando em um acordo de cessar-fogo de três fases, que incluiria a libertação de alguns reféns israelenses. O bombardeio diário do exército israelense e a constante busca por um lugar seguro em meio à destruição generalizada deixam pouco tempo para pensar no futuro. Abeer também expressa descontentamento com o grupo militante islâmico Hamas, que governa Gaza desde 2007 e é designado como organização terrorista por vários países e instituições.
“Como eu poderia apoiar uma organização que não está tentando chegar a um cessar-fogo e acabar com a guerra? Eles não me representam”, disse Abeer à DW. “Em um nível pessoal, eu quero que eles desapareçam, e eu não estou sozinha. Quem quer ficar com um movimento que está causando mortes e destruindo nossas vidas?”
Há uma crescente onda de críticas ao Hamas em Gaza, com algumas pessoas até postando discursos contra o grupo nas redes sociais. O jornalista Fathi Sabbah observa: “Há críticas mais amplas ao Hamas, nas ruas, em tendas e nas redes sociais, e há várias razões para isso. A guerra durou muito mais do que o esperado e as pessoas não conseguem mais suportar o fardo da guerra e suas consequências devastadoras, como a falta diária de água e eletricidade, preços altos, falta de renda e problemas de fluxo de caixa.”
As condições de vida para os palestinos continuam precárias e a opinião pública sobre o Hamas é difícil de avaliar. Historicamente, a oposição ao Hamas foi expressa em privado por medo de represálias. Recentemente, manifestações em Gaza foram desencadeadas pela deterioração das condições econômicas e pelo cerco israelense.
Pesquisas recentes fornecem uma visão mista do apoio ao Hamas. Uma pesquisa do grupo AWRAD mostrou que apenas 24% dos entrevistados em Gaza tinham sentimentos positivos sobre o Hamas. Em contraste, o Centro Palestino de Pesquisa e Política (PSR) revelou que 38% apoiam o Hamas, enquanto 24% são favoráveis ao partido secular Fatah.
Na Cisjordânia, o apoio ao Hamas aumentou, embora a última eleição palestina tenha ocorrido em 2006. Khalil Shikaki, especialista em opinião pública, explica que o apoio ao Hamas tende a ser sustentado por aqueles que compartilham seus valores e religião.
Ibrahim Madhoun, analista palestino próximo ao Hamas, afirma que o grupo está ciente das críticas, mas considera isso parte da luta contínua. A destruição e o deslocamento em Gaza estão corroendo as estruturas sociais e governamentais, com 86% da Faixa de Gaza sob ordens de evacuação. A força policial de Gaza comandada pelo Hamas desapareceu em grande parte das ruas.
Se um cessar-fogo for alcançado, resta saber o que acontecerá com Gaza. A pesquisa da AWRAD indica que 80% dos entrevistados em Gaza e na Cisjordânia desejam um governo liderado pelos palestinos. Muitos críticos do Hamas esperam uma mudança política, mas o futuro de Gaza continua incerto, especialmente com as promessas do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu de remover o Hamas do poder e impedir a volta da Autoridade Palestina.