A escolha do presidente eleito Donald Trump para secretário do Tesouro, o gestor de fundos de hedge Scott Bessent, prometeu manter o status do dólar como moeda de reserva mundial enquanto se preparava para enfrentar perguntas de senadores dos EUA na quinta-feira sobre como implementará os planos de corte de impostos, tarifas e desregulamentação de Trump.
O depoimento de Bessent na audiência de confirmação do Comitê de Finanças do Senado às 10h30 EST (15h30 GMT) deixará os mercados financeiros nervosos em meio a preocupações — refletidas no aumento dos rendimentos dos títulos — de que os planos políticos de Trump podem alimentar a inflação e desencadear uma nova guerra comercial global que ameace a estabilidade financeira.
O fundador de 62 anos da Key Square Capital Management precisará se apresentar como uma influência moderadora nos planos “mais extremos” de Trump, disse David Wessel, diretor do Hutchins Center on Fiscal and Monetary Policy da Brookings Institution.
“O que os mercados e a comunidade empresarial querem é saber que há um adulto na mesa que não acha que cortar impostos excessivamente e aumentar a dívida é uma boa ideia”, disse Wessel. “E alguém que não acha que todas as promessas de campanha de tarifas de Trump são boas ideias.”
Em comentários preparados e divulgados na quarta-feira à noite, Bessent expôs uma visão para “uma nova era de ouro econômica” que incluía priorizar investimentos estratégicos que fizessem a economia dos EUA crescer e tornar permanentes os cortes de impostos individuais e de pequenas empresas de Trump em 2017, que devem expirar em 31 de dezembro de 2025.
“Devemos proteger as cadeias de suprimentos que são vulneráveis a concorrentes estratégicos e devemos implementar sanções cuidadosamente como parte de uma abordagem de todo o governo para atender às nossas necessidades de segurança nacional”, disse Bessent também nos comentários.
“E, o mais importante, precisamos garantir que o dólar americano continue sendo a moeda de reserva mundial.”
Bessent não mencionou a China em seus comentários preparados, mas tem sido um forte defensor dos planos de Trump de aplicar tarifas abrangentes que variam entre 10% sobre todas as importações e 60% sobre produtos chineses.
Em um artigo de opinião da Fox News, abre uma nova abapublicado uma semana antes de emergir como vencedor de uma disputa acirrada pela escolha do Tesouro de Trump em novembro, Bessent elogiou as tarifas como “um meio de finalmente defender os americanos” após décadas de perdas de empregos devido ao aumento das importações.
“Usadas estrategicamente, as tarifas podem aumentar a receita do Tesouro, incentivar as empresas a restaurar a produção e reduzir nossa dependência da produção industrial de rivais estratégicos”, especialmente da China, escreveu Bessent.
Impostos
Espera-se que os democratas do Comitê de Finanças ataquem Bessent em seus planos de estender os cortes de impostos de 2017 para indivíduos e pequenas empresas que expiram no final deste ano. Os analistas de orçamento estimam que isso adicionaria pelo menos US$ 4 trilhões à dívida federal ao longo de uma década sem economias em outros lugares.
Bessent, em seus comentários, pediu que o governo Trump e o Congresso implementassem “políticas pró-crescimento para reduzir a carga tributária sobre os trabalhadores da indústria, serviços e idosos americanos”.
As últimas políticas referem-se às promessas de campanha de Trump de reduzir a alíquota do imposto corporativo de 21% para 15% para empresas que fabricam produtos nos Estados Unidos e de isentar de impostos a renda de gorjetas e a Previdência Social.
A democrata Elizabeth Warren, do Comitê de Finanças do Senado, divulgou uma lista de 180 perguntas, abre uma nova abapara Bessent responder, incluindo algumas contestações às suas afirmações anteriores de que os cortes de impostos poderiam se pagar ao gerar maior crescimento.
“Sua especialidade tem sido tornar investidores já ricos ainda mais ricos, não cortar custos para as famílias ou fortalecer a economia para todos os americanos”, escreveu Warren em sua carta a Bessent.
O presidente republicano do painel do Senado, Mike Crapo, chamou Bessent de “uma das mentes mais brilhantes do setor financeiro global”.
Crapo acrescentou em seus próprios comentários que Bessent “teria que trabalhar com o Congresso para preservar e desenvolver as políticas fiscais republicanas pró-crescimento que beneficiaram muito todos os americanos”.
Independência do FED
Bessent cresceu na Carolina do Sul e estudou na Universidade de Yale antes de começar a trabalhar em Wall Street, onde ajudou o famoso investidor George Soros a ganhar mais de US$ 1 bilhão apostando contra a libra esterlina em 1992.
Ele começou a Key Square em 2015, levantando rapidamente US$ 4,5 bilhões em ativos, que atingiram o pico de US$ 5,1 bilhões no final de 2017, mas caíram para US$ 477 milhões seis anos depois. Bessent prometeu alienar seus investimentos na Key Square para evitar conflitos de interesse.
Os mercados também analisarão os comentários de Bessent sobre a independência do Federal Reserve, dada sua defesa anterior de nomear um presidente “sombra” para o conselho do Fed que ofereceria orientação política alternativa. Trump reclamou recentemente sobre as taxas de juros estarem muito altas, apesar dos três cortes do Fed no ano passado.
