O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, afirmou em entrevista à CNN que o Brasil não romperá relações diplomáticas com a Venezuela, mesmo diante da crise eleitoral que se arrasta no país. A posição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva é de continuar buscando um “consenso social e político” na Venezuela, rejeitando medidas mais duras, como o rompimento diplomático, que ocorreu durante o governo de Jair Bolsonaro.
Essa postura tem sido alvo de críticas, especialmente por analistas que veem a aproximação com o regime de Nicolás Maduro como um sinal de condescendência com a falta de democracia e os abusos de direitos humanos na Venezuela. Ao reabrir a embaixada e retomar o diálogo, Lula buscou inverter a política de isolamento implementada por Bolsonaro, que havia reconhecido Juan Guaidó como presidente interino. Contudo, essa escolha por Guaidó, vista por Vieira como “infantil”, foi apoiada por vários países, não apenas o Brasil, em um esforço de pressionar Maduro a realizar eleições livres — algo que até hoje não aconteceu.
As críticas à atual diplomacia de Lula focam na falta de resultados concretos com essa reaproximação. O regime de Maduro continua reprimindo opositores e controlando o processo eleitoral, sem sinais claros de abertura. A recente saída de Edmundo González, candidato da oposição que foi exilado, levantou dúvidas sobre a possibilidade de uma solução democrática. Vieira admitiu perplexidade com o caso, mas manteve o discurso de diálogo, mesmo que, na prática, o governo venezuelano não demonstre interesse em negociações reais que levem a mudanças.
Vieira sugeriu a recriação do “Grupo de Amigos da Venezuela”, um mecanismo de mediação que o Brasil liderou em 2003, mas essa proposta também enfrenta ceticismo. Críticos argumentam que, enquanto o governo brasileiro evita qualquer pressão mais contundente, como sanções ou rompimento, Maduro continua a usar o tempo a seu favor, prolongando indefinidamente a crise política.
O chanceler reiterou que a atitude de Bolsonaro de fechar a embaixada e reconhecer Guaidó não contribuiu para uma solução, mas não oferece uma alternativa clara que possa mudar a dinâmica atual. Com isso, a estratégia de Lula é vista como uma aposta em uma diplomacia passiva, que pode não gerar avanços, enquanto o regime de Maduro se consolida cada vez mais.
A manutenção do diálogo a qualquer custo, sem levar em conta o recrudescimento da repressão interna na Venezuela, levanta a questão deque até que ponto o Brasil pode contribuir para uma solução democrática sem adotar uma postura mais firme frente às violações que ocorrem no país vizinho.