Os títulos soberano em dólar da Argentina dispararam nesta segunda-feira (27) após a expressiva vitória do presidente Javier Milei nas eleições legislativas, superando até as previsões mais otimistas e aliviando a preocupação dos investidores de que sua reforma econômica na nação em crise pudesse estagnar.
O título da dívida do país subiu em toda a curva nos primeiros negócios, com os títulos em dólar com vencimento em 2035 avançando mais de 13 centavos, negociados a um recorde de 70,34 centavos de dólar, segundo dados indicativos compilados pela Bloomberg. Os títulos argentinos lideraram os ganhos entre os pares de mercados emergentes.
Com mais de 90% das urnas apuradas, o partido de Milei obteve 41% dos votos, conquistando 64 das 127 cadeiras em disputa na Câmara dos Deputados e 13 das 24 vagas abertas no Senado, segundo dados divulgados pelas autoridades eleitorais locais no domingo à noite. O mercado esperava que a coalizão governista conquistasse cerca de 30% das cadeiras. O peso já apresentava valorização no mercado de criptomoedas no domingo, conforme os resultados eram anunciados.
“A escala da vitória de Milei está no extremo mais otimista das expectativas pré-eleitorais”, disse Alejo Czerwonko, diretor de investimentos para mercados emergentes das Américas no UBS Global Wealth Management. “Seu partido agora detém o capital político necessário para acelerar reformas estruturais.”
Os resultados também devem ajudar a dissipar dúvidas sobre a continuidade do apoio crucial dos EUA à Argentina. Antes da votação, a administração Trump assinou uma linha de swap de US$ 20 bilhões, com o banco central argentino para ajudar a estabilizar o peso e estava em negociações com um grupo de bancos para um pacote adicional de financiamento de US$ 20 bilhões.
Trump já havia sinalizado que poderia retirar seu apoio caso a agenda de Milei fosse derrotada, afirmando a repórteres que “se ele vencer, ficaremos com ele, e se não vencer, sairemos.”
“Corrida”
Gestores de fundos previam alta dos ativos com a notícia. Christine Reed, gestora de portfólio de dívida em moeda local de mercados emergentes na Ninety One, em Nova York, disse em entrevista que os títulos em dólar devem liderar a recuperação, acrescentando que “a curva de títulos locais também deve subir consideravelmente.”
O peso deve se recuperar também, já que “o mercado estava muito exposto ao dólar antes da eleição”, disse Matias Montes, estrategista da EMFI Securities. “Todos vão correr para fechar posições.”
Mercado de títulos argentino antes das eleições
A ascensão de Milei ao poder em 2023 desencadeou uma forte alta nos mercados argentinos, elevando desde ações até títulos soberanos. A dívida em dólar do país rendeu 144% desde sua eleição — ficando atrás apenas do Líbano e do Equador entre os mercados emergentes monitorados pela Bloomberg no mesmo período.
Esses ganhos começaram a se desfazer no mês passado após o desempenho fraco de Milei nas eleições locais. Os rendimentos dos títulos com vencimento em 2035 dispararam para mais de 17%, enquanto a moeda caiu até 7% em uma única sessão, com investidores questionando a capacidade de Milei de obter apoio suficiente no Congresso para aprovar sua extensa agenda econômica.
O apoio sem precedentes do Tesouro dos EUA ajudou a conter as perdas, mas não reverteu o sentimento negativo. Declarações conflitantes de autoridades americanas e argentinas — muitas vezes sem muitos detalhes — aumentaram a volatilidade.
A intervenção direta dos EUA manteve o peso — fundamental para que Milei evite o retorno da inflação — dentro dos limites da banda cambial acordada no último acordo da Argentina com o Fundo Monetário Internacional em abril. Embora nenhum dos governos tenha confirmado o tamanho da intervenção, traders estimam que os EUA gastaram mais de US$ 1 bilhão comprando pesos e oferecendo dólares, enquanto argentinos fugiam para a moeda americana por temerem uma desvalorização.
Mas o peso continuou a cair, fechando na sexta-feira a 1,492 por dólar, perto do limite mais fraco da banda. No mercado de criptomoedas, o peso foi cotado a 1,435 — indicando uma valorização de cerca de 4,8%.
Peso enfraquecido antes da votação
Milei e seu partido “surgiram como grandes vencedores com um mandato renovado”, disse Kathryn Exum, co-chefe de pesquisa soberana da Gramercy Funds Management. “Com essa vitória, governadores e políticos devem estar dispostos a trabalhar com Milei sob as condições certas, abrindo a possibilidade para reformas.”
Antes da votação, estrategistas de alguns dos principais bancos de Wall Street apostavam que Milei obteria um terço dos votos, o suficiente para garantir poderes de veto e limitar o Congresso de barrar seus planos. Para os investidores, o apoio dos EUA combinado com uma mudança mais pragmática e moderada de Milei poderia trazer alívio para a moeda do país.
A vitória decisiva coloca o partido de Milei “em boa posição” para negociar com outros grupos e aprovar as reformas, segundo Joaquin Bagues, diretor da corretora local Grit Capital Group.
“Que a festa comece”, disse ele.
