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segunda-feira, 14 outubro, 2024
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The Economist: A China está escrevendo as novas regras tecnológicas do mundo

Por Alexandre Gomes

A China está assumindo um papel de liderança no estabelecimento de padrões tecnológicos globais, desafiando a hegemonia de décadas de países como Estados Unidos, Alemanha e Japão. Tradicionalmente, as normas técnicas que garantem a interoperabilidade de dispositivos em todo o mundo, como os smartphones, foram definidas por empresas ocidentais e órgãos internacionais, como a Organização Internacional de Padronização (ISO) e a União Internacional de Telecomunicações (UIT).

Contudo, nos últimos anos, a China intensificou seus esforços para moldar essas normas. Empresas chinesas e órgãos governamentais estão influenciando cada vez mais as regras para tecnologias emergentes, como redes 6G, inteligência artificial (IA) e computação quântica. Por exemplo, a China Telecom e a Academia Chinesa de Ciências desempenharam um papel crucial na formulação de novos padrões para 6G, que integram IA e experiências imersivas, como a realidade virtual.

O crescente protagonismo da China também se reflete em suas estratégias governamentais. Diferentemente do Ocidente, onde a definição de padrões é impulsionada por empresas privadas, a abordagem chinesa é centralizada no governo. Desde 2018, a China estabeleceu um plano para liderar globalmente a definição de padrões técnicos até 2035, com foco em áreas estratégicas, como telecomunicações, drones e IA. Institutos sob os ministérios do governo coordenam esses esforços, com a Administração de Padrões da China (SAC) organizando a participação do país em órgãos internacionais.

O impacto desse movimento já é visível. Empresas como Huawei e Xiaomi têm se beneficiado economicamente da adoção de padrões chineses por outros países. A Huawei, em particular, desde 2021, passou a ganhar mais dinheiro licenciando suas tecnologias do que pagando por outras, apesar das sanções impostas pelos EUA. Além disso, a China está se envolvendo cada vez mais na definição de padrões globais para áreas emergentes, como a computação quântica, e estabelecendo acordos bilaterais com países do sul global para aumentar sua influência em fóruns internacionais.

No entanto, a questão vai além dos lucros. Para o governo chinês, os padrões tecnológicos também são uma ferramenta para moldar valores sociais. Ao contrário dos princípios da internet ocidental, que privilegiam a privacidade individual, a China busca padrões que promovam maior controle governamental. A Huawei, por exemplo, propôs protocolos de internet mais centralizados, apoiados por países como Irã, Rússia e Arábia Saudita.

Essa mudança no equilíbrio de poder na definição de padrões está preocupando o Ocidente. Tanto Estados Unidos quanto União Europeia começaram a intervir mais diretamente nesse processo, buscando limitar a crescente influência chinesa. Nos EUA, o Chips and Science Act, sancionado em 2022, designou o National Institute of Standards and Technology (NIST) para liderar o desenvolvimento de padrões para IA e cibersegurança. Na Europa, alguns políticos defendem que o Instituto Europeu de Normas de Telecomunicações (ETSI) tenha um papel mais ativo na UIT e outros fóruns internacionais.

Embora essa resposta ocidental sinalize uma preocupação com a perda de controle sobre as normas tecnológicas, há uma ironia no fato de que o Ocidente, antes defensor de uma abordagem de mercado para a definição de padrões, agora se vê forçado a adotar uma estratégia mais centralizada e coordenada, semelhante à da China. Dessa forma, a ascensão chinesa está não apenas reescrevendo as regras tecnológicas globais, mas também forçando o Ocidente a reavaliar seus próprios modelos de governança técnica.

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