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domingo, 10 agosto, 2025
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Tarifas afetam mais de 3/4 das exportações brasileiras aos EUA

Por Alexandre Gomes

Levantamento parte da Confederação Nacional da Indústria, que cobra negociações para que alíquotas sejam revistas

Um levantamento inédito da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 77,8% da pauta exportadora brasileira aos Estados Unidos está sujeita a alguma das tarifas adicionais impostas pelo governo do presidente norte-americano Donald Trump.

O estudo, baseado em dados da Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos, considera o impacto combinado das ordens executivas que instituíram sobretaxas de 10% e 40%, além das tarifas de 25% e 50% aplicadas por meio da Seção 232 da Lei de Expansão do Comércio.

Como as ordens executivas possuem listas próprias de cobertura e isenções, um mesmo produto pode estar livre de uma medida, mas sujeito a outra. O cruzamento mostra que 45,8% das exportações brasileiras estão submetidas a tarifas de 40% ou 50% direcionadas especificamente ao Brasil.

“Esse retrato dá a dimensão do problema enorme que teremos de enfrentar e o quanto vamos precisar avançar nas negociações para reverter essas barreiras”, afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban. “É um trabalho que precisa envolver governos e os setores produtivos. Os EUA são os principais parceiros comerciais da indústria, precisamos encontrar saídas.”

Quase metade da pauta exportadora enfrenta tarifas máximas

O levantamento detalha que 41,4% das exportações brasileiras aos EUA, um total de 7,6 mil produtos, enfrentam a tarifa combinada de 50%. Em 2024, a exportação desses itens somou US$ 17,5 bilhões. A indústria de transformação respondeu por 69,9% desse montante, com 7,1 mil produtos e valor de US$ 12,3 bilhões.

Os setores mais afetados pelas tarifas de 50% são:

Vestuário e acessórios (14,6%);

Máquinas e equipamentos (11,2%);

Produtos têxteis (10,4%);

Alimentos (9%);

Produtos químicos (8,7%); e

Couro e calçados (5,7%).

Além disso, os segmentos de aço, alumínio e cobre, atingidos diretamente pela Seção 232, representam 9,3% da pauta exportadora e também estão sujeitos à tarifa máxima. Somados, os grupos atingidos por tarifas de 50% representam 50,7% das exportações brasileiras aos Estados Unidos.

Exportações isentas concentram-se na indústria extrativa

A parcela da pauta brasileira que permanece isenta das tarifas adicionais está concentrada principalmente na indústria extrativa, responsável por 68,9% dessas exportações. Destacam-se o petróleo leve e o petróleo pesado.

Na indústria de transformação, o setor de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis responde por 21,5% das exportações isentas. Os principais produtos são combustíveis automotivos e óleos combustíveis pesados que não incluem biodiesel. Os setores de metalurgia e madeira completam a lista dos produtos com isenção.

Isenção para aviação civil pode alterar alcance da tarifa de 40%

A Ordem Executiva 14.323 estabelece tarifa adicional de 40%, mas prevê isenção condicional para itens comprovadamente utilizados na aviação civil. Em 2024, as exportações brasileiras que podem se beneficiar dessa exceção somaram US$ 2,9 bilhões, equivalentes a 6,9% da pauta.

O setor de “Outros equipamentos de transporte” exportou 41 produtos que totalizaram US$ 1,9 bilhão. Aviões não militares com peso entre 4,5 e 15 toneladas e acima de 15 toneladas concentraram 52,3% do valor potencialmente isento.

Se a exceção for aceita, 577 dos 601 produtos analisados ficariam sujeitos apenas à tarifa de 10%, enquanto quatro seriam integralmente isentos. Os principais setores com produtos nessa condição são:

Máquinas e equipamentos (34,9%);

Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (26,5%);

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (17,7%);

Produtos de borracha e material plástico (7,2%); e

Outros equipamentos de transporte (7,1%).

Medidas da Seção 232 já afetam 12,3% da pauta exportadora

A Seção 232 da Lei de Expansão do Comércio, já em vigor, afeta diretamente 12,3% da pauta exportadora brasileira aos Estados Unidos, o que corresponde a um total de US$ 5,2 bilhões em 2024. Dentro desse recorte, os produtos de aço e alumínio representam a maior parte, com 8,7% do total. Em seguida, aparecem os setores de veículos e autopeças, com 3%, e o cobre, com 0,6%.

Além das medidas em vigor, há investigações em andamento que podem ampliar o escopo da Seção 232 para outros setores. Os segmentos sob análise incluem: aeronaves e motores, caminhões, madeira, minerais críticos, produtos farmacêuticos, semicondutores, silício policristalino e sistemas aéreos não tripulados.

CNI propõe oito medidas para reduzir impacto das tarifas

Para mitigar os efeitos das tarifas sobre a indústria nacional, a CNI encaminhou ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, uma lista com oito propostas emergenciais. As sugestões abrangem crédito, comércio exterior, tributos e manutenção do emprego. As medidas apresentadas são:

Criação de linha de financiamento emergencial do BNDES, com juros entre 1% e 4% ao ano, voltada a empresas com exportações afetadas;

Ampliação, de 750 para 1,5 mil dias, do prazo entre contratação e liquidação de contratos de câmbio de exportação nas modalidades ACC e ACE;

Prorrogação do prazo e/ou carência para pagamento de financiamentos do PROEX e BNDES-Exim;

Aplicação de direito provisório de dumping e reforço dos recursos humanos e tecnológicos para combate a desvios de comércio;

Adiamento por 120 dias do pagamento de tributos federais, com parcelamento posterior em seis vezes mensais sem multas ou juros;

Pagamento imediato dos pedidos de ressarcimento de saldos credores de PIS/Cofins e IPI já homologados pela Receita Federal, com compensações mais ágeis;

Elevação da alíquota do Reintegra para 3%; e

Reativação do Programa Seguro-Emprego (PSE), com ajustes.

Alban afirma que as propostas “buscam mitigar os efeitos econômicos adversos aos setores afetados pelas barreiras, preservar a capacidade exportadora das empresas brasileiras e garantir a continuidade das operações internacionais em um cenário de alta imprevisibilidade”.

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