Setor de veículos automotores será o mais afetado pela medida
Um estudo elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) demonstra que a decisão do governo do México em elevar tarifas de importação pode impactar mais de R$ 1 bilhão em exportações brasileiras. A medida envolve aumento de tarifas sobre quase mil produtos de cerca de 20 setores industriais, com alíquotas que podem chegar a até 50%. A iniciativa foi aprovada pelo Legislativo mexicano e entrará em vigor em 2026.
De acordo com a análise, o Brasil aparece como o quinto país mais afetado pela proposta. Em 2024, o México importou quase US$ 12 bilhões do Brasil. Desse total, US$ 1,7 bilhão, o equivalente a cerca de 15%, corresponde a produtos incluídos na medida tarifária. Ao todo, mais de 200 produtos da indústria de transformação brasileira estão potencialmente sujeitos ao aumento das tarifas.
O levantamento mostra que a alíquota média de importação dos produtos atingidos pode mais que dobrar e passar de 16% para 33%, com picos de até 50% em determinados códigos tarifários. Segundo a Secretaria de Economia do México, responsável pela formulação do programa, o objetivo é “proteger a indústria nacional e ampliar empregos em polos industriais”, além de reduzir a dependência de importações. A pasta estima que a medida possa afetar cerca de US$ 50 bilhões em importações, o que representa quase 10% do total importado pelo país.
O estudo da CNI destaca que todos os produtos brasileiros potencialmente afetados pertencem à indústria de transformação, conjunto de atividades industriais que transformam matérias-primas em bens intermediários ou finais. Do valor exposto, quase 70% correspondem a bens intermediários, que são insumos utilizados ao longo das cadeias produtivas, especialmente no comércio intraindústria, quando países trocam partes e componentes de um mesmo setor.
Tarifaço do México afeta veículos automotores
Entre os setores brasileiros, o de veículos automotores é o mais atingido pelo programa mexicano. Segundo o levantamento, esse segmento responde por mais de US$ 900 milhões do valor total potencialmente afetado, o que representa cerca de 55% do impacto estimado. Entre os principais produtos estão motores de pistão, veículos de passageiros e partes e acessórios automotivos.
Outros setores também aparecem com valores relevantes. Produtos de borracha e de material plástico somam US$ 245 milhões. Máquinas e equipamentos superam US$ 130 milhões, enquanto o setor químico representa quase US$ 120 milhões, com destaque para itens de perfumaria. Já a metalurgia responde por cerca de US$ 100 milhões, abrangendo alumínio e produtos siderúrgicos de ferro e aço.
A CNI também chama atenção para a cobertura limitada dos acordos comerciais atualmente em vigor entre Brasil e México. O principal instrumento é o Acordo de Complementação Econômica nº 55 (ACE 55), que garante livre comércio apenas para o setor automotivo. Esse acordo cobre cerca de 60% do valor potencialmente afetado, algo próximo de US$ 1 bilhão. Outros acordos oferecem margens de preferência menores, geralmente em torno de 20%, consideradas insuficientes para neutralizar os efeitos do aumento tarifário.
Do total de US$ 1,7 bilhão exposto, cerca de 40% não contam com cobertura integral dos acordos comerciais existentes ou possuem apenas preferências reduzidas. Nesse grupo, estão principalmente produtos dos setores de veículos automotores, químicos, metalurgia e borracha e plástico. Segundo a CNI, essa situação compromete a competitividade brasileira diante de países que possuem acordos de livre comércio com o México, como Estados Unidos, União Europeia, Japão e Canadá.
O documento ressalta ainda que 95% dos produtos brasileiros potencialmente afetados enfrentam concorrência direta de fornecedores estrangeiros que têm acesso preferencial ao mercado mexicano. Entre os 20 principais produtos atingidos, apenas dois não competem com grandes exportadores isentos de tarifas, o que reduz ainda mais o espaço do Brasil nesse mercado.
Por fim, a CNI lembra que Brasil e México firmaram, em agosto deste ano, um plano de trabalho para atualizar os acordos comerciais bilaterais, com previsão de conclusão de um novo instrumento em 2026. O estudo avalia que um acordo mais amplo poderia acrescentar quase US$ 14 bilhões ao Produto Interno Bruto dos dois países, ampliar o comércio bilateral em US$ 3 bilhões e atrair cerca de US$ 8 bilhões em investimentos. Enquanto isso, a proposta mexicana de elevação tarifária pode elevar custos, afetar fluxos de comércio e gerar impactos relevantes para a indústria brasileira.