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quarta-feira, 22 outubro, 2025
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‘Somos protecionistas em relação a nós mesmos’, diz Marcos Troyjo, sobre o Acordo Mercosul-UE

Por Alexandre Gomes

Cooperação de livre mercado entre os blocos econômicos está em negociação desde a virada do século

O economista e diplomata Marcos Troyjo afirmou, durante participação no programa Oeste Negócios com Adalberto Piotto, nesta segunda-feira, 21, que os países do bloco Mercosul são economicamente protecionistas entre eles mesmos. Troyjo explicava as barreiras que impedem o trâmite do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

O Mercosul é um bloco econômico formado por Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai. A União Europeia conta com 27 países-membros.

“Às vezes é mais barato você comprar um bom vinho argentino em Hong Kong, do que comprá-lo aqui em São Paulo“, disse o economista. “Porque dependendo do produto, ele faz parte de uma lista de exceção ao processo de liberalização comercial dentro do próprio Mercosul.”

Em síntese, o acordo bilateral permite o livre comércio entre os dois blocos econômicos. Somados, os países têm cerca de 718 milhões de pessoas e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 22 trilhões. Em dezembro de 2024, as partes encerraram as negociações sobre o documento, que agora precisa ser assinado e ratificado.

O início das negociações do Acordo Mercosul-UE

Troyjo explicou que as negociações do Acordo Mercosul-UE começaram ainda na década de 1990. Na época, diversos outras movimentações ao redor do mundo também ocorriam. Veja alguns deles:

  • Tratado de Assunção: assinado em 26 de março de 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, estabeleceu o mercado comum entre os países signatários. Criação do Mercosul;
  • Área de Livre Comércio das Américas: projeto de bloco econômico proposto pelos Estados Unidos no ano de 1994. O objetivo era eliminar as barreiras comerciais entre 34 países do continente americano. O acordo nunca foi implementado; e
  • Tratado de Maastricht: assinado no dia 7 de fevereiro de 1992, determinou a criação da União Europeia. O documento determinou a criação de uma moeda própria do bloco, que foi o Euro. Além disso, fortaleceu a cooperação em política externa, de segurança e assuntos internos dos países.

“A década de 1990 foi marcada por uma noção de que os países estavam dispostos a embarcar num processo de integração comercial e econômica”, explicou Troyjo. “Parecia fazer todo sentido realizar uma maior proximidade entre a União Europeia e o Mercosul.”

Uma dose de protecionismo e o crescimento chinês

Mesmo com o parecer favorável da conjuntura global da época para a criação de novos laços econômicos, alguns fatores impediram que o Acordo de Livre Comércio Mercosul-UE avançasse. O economista afirmou que o protecionismo, de ambos os lados, era um dos motivos.

Troyjo explicou que os europeus temiam a entrada do agronegócio sul-americano em seus supermercados, por exemplo. Justamente pela superioridade competitiva da agropecuária brasileira, argentina e uruguaia.

Do lado do Mercosul, pensamentos como a substituição da importação por industrialização também geraram impeditivos para o avanço do acordo. O economista explicou que países do Sudeste Asiático até adotaram essa postura, mas com “métricas bem definidas para saber se as empresas conseguiam andar com as próprias pernas.”

“Não é como o caso do Brasil e da Argentina, em que você tem substituição de importações transformada em reserva de mercado”, explicou Troyjo. “Nós também somos muito protecionistas.”

Outro motivo que esfriou a relação entre o Mercosul e a União Europeia foi a emergência da Ásia. Troyjo relembrou que o último ano em que a economia do Brasil era maior do que a da China, foi em 1997.

“Em 2001, o comércio Brasil-China era de US$ 1 bilhão por ano”, lembrou o economista. “O que aconteceu com a China nesses últimos 24 anos? Ela pulou de um PIB que era do tamanho do Brasil, para hoje ser a segunda maior economia do mundo, com US$ 19 trilhões.”

O diplomata afirmou que, do ponto de vista do comércio exterior, um crescimento econômico como o da China representa um consumo maior de calorias e nutrientes. Um cenário favorável para a expansão do agronegócio brasileiro, principalmente.

“Essa emergência da Ásia faz com que você tenha um substituto aquele que era o principal parceiro comercial do Mercosul, que eram os países da União Europeia”, disse o economista. “‘Quer ficar com o seu protecionismo? Fique com o seu protecionismo. Nós temos aqui a Ásia.’”

Para evitar uma hiperdependência do mercado chinês, o especialista reitera a necessidade de o Brasil diversificar suas exportações. Neste cenário, avançar com o Acordo Mercosul-UE aparece, mais uma vez, como uma alternativa.

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