Hoje, o mercado financeiro aguarda a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que será anunciada nesta quarta-feira, 18. Após uma sequência de sete cortes consecutivos desde agosto passado – seis de 0,5 ponto percentual e um de 0,25 ponto percentual -, a expectativa predominante é que a taxa Selic seja mantida em 10,50%. Esta interrupção no ciclo de redução das taxas de juros é vista como uma resposta às crescentes incertezas tanto globais quanto locais.
No início do ano, esperava-se que a Selic terminasse em 9%, mas mudanças no panorama econômico levaram os analistas a ajustarem suas projeções, agora prevendo que a taxa encerrará o ano em 10,5%. Uma pesquisa realizada pelo BTG Pactual com 69 participantes do mercado financeiro revelou que 83% dos entrevistados esperam pela manutenção da taxa, enquanto 17% ainda aguardam um corte de 0,25 ponto percentual.
A principal razão para essa mudança de expectativa foi o aumento da inflação, especialmente após o IPCA de maio ter acelerado, interrompendo a trajetória de melhora dos núcleos de inflação. Além disso, a valorização do dólar tem contribuído para o aumento dos preços, o que torna mais desafiadora a continuidade do ciclo de relaxamento monetário. Esse cenário é agravado pela piora do quadro fiscal, com a flexibilização das metas de resultado primário para os próximos anos e as dificuldades na agenda de reformas do ministro Fernando Haddad, que visa aumentar a arrecadação.
No cenário internacional, a manutenção das taxas de juros nos Estados Unidos também dificulta a queda da inflação no Brasil e, por consequência, a redução da Selic. Isso ocorre porque juros mais altos nos EUA levam à fuga de investimentos do Brasil, o que contribui para a valorização do dólar. Com menos dólares em circulação no Brasil, a moeda se valoriza ainda mais.
A expectativa é que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, adote um tom mais cauteloso – um comportamento mais incisivo na contenção da inflação. Isso se deve à crescente preocupação com o aumento das incertezas fiscais e a perda de ancoragem das expectativas de inflação, fatores que demandam uma postura mais firme da política monetária.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos e ex-diretor do BC, acredita na manutenção unânime da Selic e reforça a importância do Banco Central em demonstrar seu compromisso com a meta de inflação para reestabelecer as expectativas inflacionárias.
A expectativa também está voltada para o posicionamento dos diretores do Banco Central indicados por Lula. Na última reunião, houve uma decisão dividida, com Roberto Campos Neto desempatando a favor de um corte de 0,25 ponto percentual, ao invés do 0,5 desejado pelos diretores indicados pela gestão petista. Analistas enfatizam a importância de uma decisão unânime nesta quarta-feira, pois a divisão pode indicar uma política futura mais flexível do Banco Central, o que poderia aumentar ainda mais as expectativas inflacionárias.
Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, destaca que o balanço de riscos piorou desde a última reunião, com as incertezas fiscais persistentes e a falta de ancoragem das expectativas de inflação. Ele argumenta que o aumento contínuo das expectativas de inflação exige uma abordagem mais rígida da política monetária para evitar uma deterioração adicional.
Por fim, Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos, também espera uma decisão unânime pela manutenção da Selic, apontando para os riscos de uma desvalorização cambial e o aumento dos preços das commodities como indicativos de pressão inflacionária futura. Ele sugere que o comunicado do Copom pode até sinalizar a possibilidade de futuros aumentos na taxa Selic.