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Selic a 13,25% é dada como certa, mas mercado quer saber onde os juros vão parar

Por Alexandre Gomes

Sinalização do BC de juro a 14,25% em março não parece mais ser suficiente, precificação já se aproxima de 16%, com risco de dominância fiscal à vista

Ao fim de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sinalizou que aumentaria a taxa básica de juros do Brasil em 1 ponto percentual (p.p.) nas duas primeiras reuniões de 2025, contratando uma Selic de 14,25% até março deste ano. Com isto, o aumento para 13,25% nesta quarta-feira (29) é dado como certo.

A dúvida está na quantidade de aumentos necessários para ancorar a expectativa de inflação e trazer o indicador de preços de volta para a meta de 3% ou, no limite, ao teto de 4,5%.

Enquanto agentes de mercado consultados pelo BC para o Boletim Focus sinalizam uma Selic de 15% ao fim do ano, 0,75 p.p. acima do sinalizado pelo Copom, a precificação do mercado vai além, com projeções de até 15,75% em um cenário “pessimista”.

A unanimidade entre as fontes ouvidas pelo InfoMoney é de que o cenário está muito incerto, local e globalmente. Economistas não esperam que a autarquia sinalize no comunicado desta noite quais serão os próximos passos depois da reunião de março, deixando as possibilidades em aberto para eventuais aumentos ou manutenções – cortes não são esperados até 2026.

“Por um lado, a política monetária mais restritiva deve impactar a economia com mais força a partir do segundo trimestre. Por outro, a dinâmica do Real e das expectativas de inflação serão cruciais para determinar o tamanho do ciclo”, diz Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA.

“Caso haja nova rodada de depreciação da moeda e/ou deterioração adicional das expectativas, não é possível descartar uma extensão do ciclo e eventualmente, uma postergação dos cortes em 2026.”

— Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA

O detalhe importa

O time macro da XP avalia que a atenção dos mercados deve estar voltada para três principais fatores nesta reunião:

  • As projeções de inflação dos membros do comitê;
  • A avaliação do Copom sobre os efeitos da política monetária restritiva na economia; e
  • O tom do comunicado após a decisão.

Desde o guidance de dezembro, o mercado mudou a direção da trajetória de aversão ao risco: as taxas de juros futuros de curto prazo, que acompanham o horizonte de política monetária até meados de 2026, acomodaram-se em linha com a projeção dada último Copom, eliminando prêmios de risco adicionais.

Porém, as taxas de longo prazo abriram 0,45 p.p. adicionais, refletindo o risco fiscal persistente. Além disso, a desancoragem da inflação só aumenta, com revisões de viés altista semanais nos relatórios Focus.

Há um mês, a projeção para o IPCA ao fim de 2025 era de 4,96%. Nesta semana, a expectativa aumentou para 5,50%. Os dados de 2026, 2027 e 2028 também passaram por revisões para cima.

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, afirma que o BC precisa manter uma comunicação dura nas sinalizações desta primeira reunião, porque uma nova estratégia nesse momento poderia gerar mais ruído e aumentar os prêmios de risco.

A leitura da XP é de que os primeiros sinais de resposta firme que começaram em 2024 já começam a dar resultados: “vemos sinais de acomodação na taxa de câmbio. Na atividade doméstica, os últimos indicadores sugerem desaceleração, que deve continuar nos próximos meses. Se a taxa de câmbio ficar relativamente estável nos próximos meses e a desaceleração econômica se intensificar, o Copom poderá optar por aumentar a taxa Selic pela última vez em maio”, diz relatório do banco.

Dominância fiscal?
Mas há quem esteja mais pessimista. Alguns economistas e gestores alertam para sinais de dominância fiscal, situação em que a política fiscal relacionada às contas públicas tem mais relevância e efeito sobre a inflação do que a política monetária do Banco Central.

Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs, vê sinais claros de dominância fiscal, embora acredite que o país ainda não tenha chegado nesse nível. Para ele, a crise se dá pela falta de empenho do governo em relação à trajetória da dívida pública.

Embora não use o termo dominância fiscal, Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, avalia que a melhor maneira de reduzir o estresse e evitar uma escalada ainda maior dos juros é um ajuste fiscal sério, cortando gastos. Para ele, o Banco Central está no esforço restritivo de aumento de juros, mas a política fiscal vai para o outro lado.

“Enquanto a política monetária busca ancorar expectativas e controlar a inflação, a política fiscal segue incerta, sem diretrizes claras sobre o controle da dívida pública, impactando a curva de juros, câmbio e a inflação futura”

— Gustavo Sung, economista-chefe da Suno

Os dois primeiros ajustes da Selic neste ano devem ser um teste de fogo para o Banco Central. “É preocupante que, mesmo com taxas tão altas, não haja perspectivas claras de convergência da inflação para a meta. Juros reais nesse patamar são raros no Brasil, só ocorreram em momentos de crise, como nos anos 1990”, diz Sung.

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