A indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central (BC), feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é um teste crucial para a independência da instituição. Atualmente diretor de Política Econômica do BC, Galípolo substituirá Roberto Campos Neto no próximo ano, enquanto o mercado financeiro e os agentes políticos observam atentamente.
A dúvida persiste: Galípolo manterá a postura técnica que adotou no Comitê de Política Monetária (Copom) ou cederá às pressões do Executivo, que tem criticado a política monetária restritiva?
O Copom ainda se reunirá duas vezes este ano, em setembro e novembro, para decidir sobre a taxa Selic, atualmente em 10,5%.
Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito da Rio Bravo Investimentos, prevê que Galípolo possa votar por um aumento na taxa de juros na próxima reunião para alinhar-se com seu discurso. Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, ressalta que o mercado estará atento ao posicionamento de Galípolo.
A principal expectativa recai sobre a nova composição do Copom no próximo ano. Além da presidência de Galípolo, Lula nomeará outros dois diretores, resultando em que sete dos nove membros do Copom serão indicados pelo atual governo. Buccini questiona se Galípolo manterá sua postura técnica ou se se ajustará às diretrizes do governo, enquanto Jefferson Laatus acredita que a verdadeira avaliação de sua atuação ocorrerá após a primeira reunião de janeiro.
Galípolo tem um perfil mais político em comparação com seus predecessores, mas nunca perdeu sua conexão com o mercado financeiro. Com formação em Economia Política e experiência em consultoria e no setor financeiro, ele foi confirmado pelo Senado em julho de 2023 e tem sido um defensor de uma política monetária técnica.
Apesar disso, Tony Volpon, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, destaca a desconfiança do mercado quanto à sua capacidade de manter independência, dado seu alinhamento com o governo atual. Galípolo terá que provar que atuará de forma técnica e comprometida com o sistema de metas, especialmente em um momento econômico desafiador com expectativas inflacionárias incertas e questões fiscais em jogo.
Na sua atuação inicial como diretor, Galípolo teve uma postura mais conservadora, mas mudou de posição para alinhar-se com o Comitê. Alex Agostini e Carla Argenta destacam que suas recentes ações demonstram um compromisso com a política monetária técnica, apesar das pressões.
O senador Flávio Bolsonaro criticou a escolha de Galípolo, alegando que a indicação é uma escolha estratégica do governo para facilitar a confirmação no Senado, e questionou a capacidade de Galípolo em substituir Campos Neto com eficácia.