Maior competição entre bancos, fintechs e plataformas amplia opção de clientes e empresas, reduzindo margem de bancos e tornando empréstimos mais baratos
A concorrência bancária tem contribuído para a redução do “preço” do dinheiro, expressão usada para se referir a quanto custa pegar um empréstimo com base nos juros aplicados. Nos últimos anos, o avanço da tecnologia, a regulação e o comportamento digital têm contribuído para a expansão dos serviços bancários online, aumentando a concorrência dos grandes bancos.
Um levantamento feito pela Elos Ayta Consultoria, liderado pelo economista Einar Rivero, aponta que os cinco maiores bancos foram responsáveis por conceder 86% dos empréstimos em 2013. Atualmente, este percentual é de 78%.
Para Rivero, a redução é lenta, mas contínua, e reflete a ascensão dos bancos médios, das cooperativas e das fintechs.
“Esses novos agentes conquistaram espaço ao oferecer serviços digitais, custos menores e operações mais simples. Com isso, passaram a disputar diretamente o público que antes dependia das grandes instituições”, avalia.
Embora a concentração ainda esteja alta, o comportamento do mercado aponta para uma mudança de poder em curso. “O crédito começa a ser tratado como um serviço de mercado, sujeito à competição e à transparência”, avalia.
Disputa de mercado
Segundo Rivero, essa disputa por clientes e recursos têm forçado os grandes bancos a reverem margens e reduzirem spreads – que é a diferença entre o que o banco cobra de juros para emprestar dinheiro aos clientes e empresas versus o que ele paga para quem investe nos títulos bancários.
Em outubro de 2016, por exemplo, o spread bancário para empresas chegou a 14,11 pontos percentuais, caiu a 7,8 p.p. em dezembro de 2020, e era de 9,61 p.p. em agosto deste ano – redução de 4,5 p.p. no período.
Para as pessoas físicas, onde spread bancário é estruturalmente maior, também foi observada uma redução. O estudo aponta que ele chegou em 41,15 ponto percentual em fevereiro de 2017, caiu a 27,75 p.p. em dezembro de 2020 e era de 33,53 p.p. em agosto deste ano – redução de 7,62 p.p.
Impacto das plataformas e open finance
A base dessa mudança está nas plataformas de investimento, que, segundo o economista, catalisaram o processo. Rivero avalia que essas plataformas derrubaram barreiras que antes impediam os bancos médios de competir em escala nacional, com o canal digital substituindo a rede física.
“Em vez de agências, surgiram vitrines online de produtos financeiros. O investidor passou a comparar taxas, prazos e riscos. A informação deixou de ser monopólio dos grandes bancos. Essa transparência mudou também o lado do crédito: quem empresta e quem toma passou a ter mais opções” afirma Rivero.
Há dez anos, uma mesma pessoa poderia aplicar em Certificado de Depósito Bancário (CDB) de um banco e tomar empréstimo na mesma instituição. Hoje, bancos de médio porte captam recursos por meio das plataformas digitais e financiam pequenas e médias empresas em todo o país. “A consequência direta é a queda no custo de funding e o aumento da concorrência, o que inicia um movimento de estreitamento do spread entre a captação e o empréstimo, afetando os preços tanto para pessoas físicas quanto para empresas”, avalia Rivero.
O economista destaca que a regulação teve um papel decisivo, com o Open Finance, o Pix e o marco das fintechs criando um ambiente de integração. Este compartilhamento de dados permite que bancos menores e plataformas analisem riscos com maior precisão, e ofereçam crédito a custos mais baixos. “O consumidor agora pode autorizar o acesso a seu histórico financeiro e receber propostas em segundos, tornando a comparação de taxas uma prática cotidiana”, afirma.