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quarta-feira, 15 outubro, 2025
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Por medo de novas sanções de Trump, importadores de diesel russo reativam contato com americanos

Por Alexandre Gomes

Rússia é o maior fornecedor de diesel importado ao Brasil; empresários preparam plano de contingência após EUA anunciarem sobretaxa à Índia por compra de petróleo russo

Importadores brasileiros de diesel da Rússia reativaram contatos com fornecedores americanos e estão criando planos de contingência caso o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, faça um embargo contra as vendas russas ou ameace o Brasil de novas sanções pela compra do combustível.

Nesta quarta-feira, 6, Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos importados da Índia em razão da compra de petróleo russo.

O Brasil recebeu a mesma taxação, mas o argumento de Trump contra o País foi diferente e teve contornos políticos, com a crítica do americano ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e ao que ele considera uma perseguição ao seu aliado político. Assim, autoridades e empresários brasileiros passaram a temer que Trump possa avançar em novas sanções contra o Brasil, dessa vez com o pretexto das compras russas.

A Rússia está sob embargo dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) desde 2022, quando invadiu a Ucrânia. Mais recentemente, os EUA intensificaram o bloqueio, com sanções a países que mantêm negócios com a Rússia, para pressionar Vladimir Putin a aceitar um cessar-fogo. Trump deu um ultimato ao presidente russo que termina nesta sexta-feira, 8 – o que deixou o mercado de combustíveis do Brasil em alerta quanto a um efeito repentino no fornecimento.

A Rússia é o maior fornecedor de diesel importado ao Brasil, com 66% de participação. Um quarto do mercado brasileiro é abastecido com diesel importado, uma vez que o refino interno não dá conta da demanda pelo combustível.

Grandes distribuidoras e refinarias, como Vibra, Ipiranga e Raízen, além da Refit (antiga Manguinhos) e da Atem, no Amazonas, estão comprando diesel russo. A Ipiranga informou que não comprou de empresas sob embargo: “A empresa não realiza transações que infrinjam sanções e, por meio de processos de diligência, assegura a integridade de suas operações.”

A Vibra afirmou que as suas compras “passam por rigorosas avaliações de compliance de renomados escritórios no Brasil e no exterior, conformidade regulatória e qualidade”. E acrescentou: “Na aquisição de diesel russo não foi diferente, tanto que a Vibra foi a última empresa a utilizar essa origem em sua estratégia logística”.

A Raízen disse que não vai comentar porque está em período de silêncio.

Com o aperto do embargo, comercializadores brasileiros estão voltando a fornecedores americanos e no Golfo do México, tendência que, segundo integrantes do setor ouvidas pelo Estadão, vai se intensificar após o tarifaço e as ameaças de novas sanções contra o Brasil.

Até a Rússia ocupar o lugar de principal supridor do mercado doméstico, o maior fornecedor era justamente os Estados Unidos. As compras da Rússia começaram a crescer em 2022, ainda sob Jair Bolsonaro.

As importações cresceram porque a Rússia passou a vender diesel mais barato, em razão do embargo. Isso fez com que os russos, de um fornecedor responsável por menos de 1% das importações brasileiras, passassem a ser o principal supridor do País.

Sérgio Araújo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), afirma que, caso o Brasil tenha que suspender o comércio de diesel com a Rússia, o preço no mercado interno vai aumentar.

“Hoje, o preço do diesel da Rússia é mais barato do que o do diesel do mercado internacional. É um desconto em torno de US$ 0,02 por galão. É pequeno, mas já foi grande, já chegou a US$ 0,15 por galão. Mantida a situação normal, esse desconto poderia ser aumentado, voltar para a faixa dos 10, 15 centavos lá pelo final de setembro”, afirma Araújo.

O maior temor é um bloqueio total das vendas da Rússia para o mundo.

“A Rússia corresponde a quase 10% do mercado global de petróleo e derivados. Se ela ficar fora do jogo com essas sanções, e os principais países consumidores não puderem comprar dela, a expectativa é que a gente tenha um desequilíbrio na oferta e demanda global”, afirma.

“Historicamente, o fornecedor de diesel para o Brasil era os Estados Unidos. No entanto, após o início do conflito da Rússia com a Ucrânia, os países da União Europeia que compravam diesel da Rússia pararam de comprar e passaram a adquirir das refinarias americanas. Com isso, a gente não sabe ainda se as refinarias americanas poderiam atender ao mercado brasileiro”, acrescenta Araújo.

O governo Lula já ligou o radar para o problema e prepara um plano de contingência, ainda que não enxergue neste momento gravidade extrema. Tanto o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) quanto o de Minas e Energia (MME) foram informados pelo setor privado de que não há risco de desabastecimento e de que é possível comprar diesel de outros países. Ainda assim, o efeito sobre preços é incerto.

“É uma dificuldade a gente saber se vai conseguir comprar das refinarias americanas, porque esse fluxo para os países da União Europeia está bem aquecido há quase dois anos. Então, não é uma mudança trivial”, disse Araújo. Ele aposta que as empresas deverão tentar ainda aumentar as compras dos países do Oriente Médio.

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