A economia brasileira em 2024 foi marcada por um crescimento superior ao esperado, com o desemprego atingindo mínimos históricos. No entanto, medidas de contenção de gastos não agradaram o mercado, e o aumento das preocupações com a política fiscal resultaram na forte desvalorização do real. O ano foi repleto de altos e baixos e promete novos acontecimentos significativos em 2025.
De acordo com Armando Castelar, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), 2024 marca o início de uma mudança geopolítica importante, que deve continuar em 2025. O especialista destaca que, no começo do ano, esperava-se um crescimento modesto do PIB, mas os dados foram sendo revisados para cima, com a surpreendente força da demanda interna e o aumento do consumo das famílias, impulsionado pela expansão do crédito e pela resiliência do mercado de trabalho.
No entanto, a inflação permaneceu acima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central (BC), forçando o retorno do ciclo de alta da Selic, que deve terminar 2024 em dois dígitos. Castelar ressalta que a percepção de risco doméstico é um fator importante para o cenário atual.
Inflação e Juros
A pressão inflacionária foi alimentada pelo aquecimento da economia e pela pressão do mercado de trabalho. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) teve uma alta de 0,34% em dezembro, encerrando o ano com variação acumulada de 4,71%, acima da meta de 3%. O Ministério da Fazenda revisou sua projeção para a inflação em 2024 de 4,25% para 4,4%, embora ainda seja mais otimista do que a estimativa do mercado, que aponta 4,91%.
No campo dos juros, a Selic começou o ano em 11,75%, caiu para 10,50% em maio e permaneceu nessa faixa até setembro, quando a alta foi retomada. O ciclo de elevação da taxa de juros culminou em uma Selic de 12,25% ao final de 2024, e os mercados projetam que ela pode chegar a 14,75% em 2025.
Risco Fiscal e Medidas de Contenção
A gestão fiscal foi um tema recorrente no ano. A divulgação do pacote fiscal em novembro, que inclui cortes de gastos e mudanças no Imposto de Renda, causou ruídos no mercado. Embora os projetos tenham sido aprovados pelo Congresso, o impacto foi menor do que o esperado, com uma economia projetada de R$ 2,1 bilhões até 2026, muito abaixo dos R$ 71,9 bilhões inicialmente previstos.
O cenário fiscal foi considerado negativo pela Fitch Ratings, que alertou para um risco de um círculo vicioso entre as políticas fiscal e monetária. A dívida pública do Brasil fechou novembro em R$ 7,2 trilhões, e o governo prevê que ela atinja 77,7% do PIB em 2024.
Desvalorização do Real e Intervenções do BC
Outro destaque de 2024 foi a forte desvalorização do real em relação ao dólar. A moeda norte-americana atingiu picos históricos em novembro, especialmente após a apresentação do pacote fiscal. O Banco Central interveio no mercado cambial com leilões que totalizaram US$ 30 bilhões, mas a confiança do mercado permanece fragilizada, sendo necessária uma política fiscal mais sólida para conter a alta do dólar.
Crescimento do PIB
O PIB brasileiro surpreendeu positivamente ao registrar um crescimento de 0,9% no terceiro trimestre de 2024, impulsionado pelos setores de serviços e indústria. O crescimento acumulado do PIB foi de 3,3%, superando as estimativas iniciais de 1,59%. No entanto, para 2025, espera-se uma desaceleração do crescimento para cerca de 2,1%.
Acordo Mercosul-UE
Em dezembro, foi anunciado o tão esperado acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, após 25 anos de negociações. Este acordo pode trazer benefícios para o Brasil, como a modernização da indústria, redução de preços de produtos importados e avanços no setor automotivo.
Perspectivas para 2025
Em resumo, 2024 foi um ano de grandes desafios, mas também de surpresas positivas. No entanto, a situação fiscal e a inflação seguem sendo preocupações, e 2025 promete ser um ano igualmente agitado, com novos capítulos dessa trajetória. Como destacou Castelar, “o ano terminou agitado e 2025 não começará de forma diferente”.
