A frase “é a economia, estúpido”, famosa por ter sido usada na campanha de Bill Clinton, reflete a importância da economia nas decisões eleitorais. Contudo, como o artigo de Alan Ghani, da Gazeta do Povo, aponta, essa máxima parece não ter se aplicado completamente às recentes eleições municipais no Brasil, mesmo com bons indicadores econômicos. O crescimento econômico, a inflação sob controle e a taxa de desemprego em queda não resultaram em um crescimento significativo do Partido dos Trabalhadores (PT), o que levanta questões sobre a dinâmica política atual e a complexidade da percepção pública.
Nos tempos em que Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio Lula da Silva capitalizaram o sucesso econômico, o cenário era diferente. FHC, ao implementar o Plano Real, conseguiu estabilizar a economia e, com isso, vencer as eleições de 1994 e 1998. Da mesma forma, Lula beneficiou-se de um contexto externo favorável, com um boom das commodities e um crescimento econômico global, especialmente na China, o que fortaleceu sua posição política entre 2003 e 2010, levando-o à reeleição e à eleição de sua sucessora, Dilma Rousseff.
Entretanto, na eleição municipal de 2024, mesmo com resultados econômicos relativamente positivos, o PT não conseguiu repetir o crescimento de prefeituras como no passado. O partido conquistou apenas 248 prefeituras, ficando atrás de partidos como PSD, MDB, PP e União Brasil. Esse desempenho sugere que, apesar dos avanços econômicos, a relação entre economia e sucesso eleitoral se tornou mais complexa.
Há diversas explicações possíveis para isso. Uma delas é que, embora os indicadores econômicos sejam favoráveis, essa melhoria não se reflete de forma ampla na vida cotidiana dos brasileiros. Após anos de crise econômica e da pandemia, a recuperação ainda pode ser vista como insuficiente para a maioria da população, especialmente nas classes mais baixas. Diferente do crescimento robusto da classe média durante os primeiros anos do governo Lula, hoje a ascensão social é menos expressiva.
Outra hipótese é que o crescimento econômico atual beneficia de forma desproporcional os segmentos mais ricos da população, o que limita o impacto positivo nas camadas mais vulneráveis. Sem um aumento significativo da renda nas classes D e C, como aconteceu durante o boom das commodities, a percepção de prosperidade pode estar concentrada entre os mais privilegiados, reduzindo o impacto eleitoral para o PT.
Adicionalmente, os brasileiros podem estar mais maduros politicamente, percebendo que o sucesso econômico atual é, em parte, fruto de reformas estruturais realizadas durante os governos Temer e Bolsonaro, como a reforma trabalhista, previdenciária e o marco do saneamento. A estabilização da economia também é atribuída à independência do Banco Central, o que indica que os méritos estão distribuídos entre diferentes administrações.
Por fim, o artigo de Ghani sugere que, além da economia, os eleitores estão considerando outros fatores ao votar, como segurança pública e corrupção. Esses temas são sensíveis, especialmente devido aos escândalos envolvendo o PT no passado, como o mensalão e a Operação Lava Jato. A percepção de que a esquerda falhou em lidar com essas questões pode ter contribuído para o fraco desempenho nas eleições municipais.
Portanto, o ditado “é a economia, estúpido” parece ter perdido um pouco de sua força explicativa no contexto político brasileiro atual. Embora a economia ainda seja um fator importante, outros elementos, como segurança, corrupção e a distribuição dos benefícios econômicos entre as diferentes classes sociais, estão desempenhando um papel cada vez mais relevante nas decisões eleitorais. Isso sugere que o eleitorado está mais complexo e exigente, refletindo uma nova dinâmica política no Brasil.