O artigo de Alexandre Schwartsman no Estadão faz uma crítica contundente à postura de Gabriel Galípolo, sabatinado para assumir a presidência do Banco Central (BC). Schwartsman destaca que Galípolo, ao afirmar que Lula lhe deu “liberdade na tomada de decisões”, comete um erro fundamental: a autonomia do BC é garantida por lei, não concedida pelo presidente da República. Ele sugere que essa declaração revela uma subserviência a Lula, colocando em dúvida a independência do futuro presidente do BC.
Para Schwartsman, a autonomia do BC não é um presente que pode ser oferecido ou retirado pelo chefe do Executivo, mas sim um direito estabelecido pela Lei Complementar 179/2021, aprovada pelo Congresso Nacional. Isso significa que qualquer poder concedido ao BC vem do Legislativo, não do presidente. Essa estrutura é fundamental para garantir que a política monetária seja conduzida sem influências políticas diretas.
Outro ponto crítico levantado pelo autor é o entendimento de Galípolo sobre o “compromisso com o povo brasileiro”. Para Schwartsman, a Lei de Autonomia do BC é clara ao estabelecer que o objetivo principal da instituição é a estabilidade de preços, e outros objetivos são secundários, como a eficiência do sistema financeiro e o pleno emprego. Não há, portanto, uma diretriz vaga ou populista de “compromisso com o povo”, mas sim um foco técnico e claro nos pilares da política monetária.
Schwartsman ainda critica a possível confusão de Galípolo quanto ao papel das instituições em limitar ações arbitrárias do governo. Ele sugere que a fala de Galípolo reflete uma visão do governo Lula em que toda autoridade parece derivar do presidente, comparando-o ao “Príncipe Painho”. Essa percepção levanta preocupações sobre o grau de independência que o BC terá sob sua liderança, principalmente em um governo que, segundo o autor, valoriza a centralização do poder e decisões arbitrárias.
Por fim, Schwartsman questiona se o mercado financeiro está ciente dessas implicações ou se está iludido com a imagem de conversão de Galípolo à política monetária ortodoxa. Para ele, as declarações de Galípolo, longe de trazer confiança, expõem a subordinação ao presidente e indicam um futuro incerto para a independência do Banco Central sob o governo Lula.