A estabilidade econômica alcançada com o Plano Real em 1994 encerrou a era da hiperinflação, preparando o terreno para o crescimento do Brasil nas últimas três décadas. Contudo, apesar da inflação controlada, os juros não seguiram a mesma trajetória.
Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos, atribui essa disparidade ao persistente descontrole das finanças públicas, que continuaram a refletir um desejo irresponsável de gastos. Para Franco, o desafio fiscal ainda é preponderante, envolvendo complexidades políticas e sociais. Ele destaca que o orçamento nacional reflete tanto as aspirações quanto as limitações do país, uma equação não plenamente resolvida pelo Plano Real, mas levada a um patamar administrável.
Quanto à execução da política monetária, Franco vê como positiva a separação dos mandatos dos diretores do Banco Central em relação ao presidente da República, embora reconheça que há mais progressos a serem alcançados além dos realizados nas primeiras três décadas desde a implementação do real.
Comparando as disputas entre autoridades governamentais e o Banco Central às lutas enfrentadas pelas agências reguladoras, Franco enfatiza a necessidade de autonomia legal para estas últimas. Segundo ele, o presidente do Banco Central não deve buscar a amizade do presidente da República, mas sim atuar com independência.
Gustavo Franco, um dos arquitetos do Plano Real, discutiu esses pontos no podcast Stock Pickers, como parte da série especial “30 anos do Plano Real: Passado, presente e futuro da moeda que transformou o país”. O InfoMoney continuará a explorar essa trajetória até 1º de julho, com reportagens, entrevistas, vídeos e artigos.
Em 1994, Franco era secretário adjunto da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, enfrentando a desafiadora missão de conter uma inflação mensal de 50% e anual de 12.500%. Esse contexto era marcado por filas nos supermercados nos primeiros dias de cada mês e correrias aos bancos para proteger o dinheiro da corrosão diária pela inflação.
Ao invés de adotar medidas fracassadas de congelamento de preços, a equipe do Plano Real optou por um ajuste fiscal, a criação da URV (Unidade Real de Valor) como moeda de transição, e a posterior implementação do real. Essa abordagem, segundo Franco, foi muito mais eficaz do que as estratégias anteriores, demonstrando uma compreensão real do problema.
Além das medidas econômicas, houve desafios práticos, como a produção acelerada de novas cédulas pela Casa da Moeda para a circulação da nova moeda em julho de 1994. Franco também recorda da intensa discussão política que precedeu a implementação do Plano Real, destacando momentos de tensão durante as negociações.
Essas experiências foram reunidas em um livro recente, “30 anos do Real”, que compila textos de Gustavo Franco, Pedro Malan e Edmar Bacha sobre o contexto histórico e as decisões cruciais tomadas para assegurar a estabilidade econômica do país.