A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), alvo da Operação Sem Desconto da Polícia Federal (PF) por suspeitas de fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mantém amplo acesso ao governo Lula. Segundo o Estadão, a entidade foi recebida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por pelo menos seis ministros ao longo do último ano, incluindo um encontro no Palácio do Planalto em abril de 2024, o primeiro em sete anos, onde apresentou reivindicações diretamente ao presidente.
A Contag é uma das 11 entidades investigadas por descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS, que totalizaram R$ 6,3 bilhões e afetaram 6 milhões de beneficiários entre 2019 e 2023, período que abrange os governos Bolsonaro e Lula, conforme o Estadão. A operação, deflagrada na quarta-feira (23), resultou na demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, indicado pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.
Procurado pelo Estadão, o Planalto não se manifestou. A Contag afirmou que “sempre atuou com ética” e que “tem se empenhado na fiscalização dos projetos e convênios que administra, em conformidade com as normas legais”. O Ministério do Desenvolvimento Agrário defendeu o princípio da presunção de inocência.
Em abril de 2024, Lula recebeu a cúpula da Contag no Planalto, ao lado dos ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência), segundo o Estadão. Durante o encontro, o presidente posou para fotos com bandeiras da entidade e o documento de reivindicações, enquanto participantes fizeram o sinal de “L” em apoio ao petista. A Contag também se reuniu com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Luiz Marinho (Trabalho), Marina Silva (Meio Ambiente) e Cida Gonçalves (Mulheres), que não comentaram as reuniões, conforme o Estadão.
O trânsito da Contag com o governo Lula permaneceu intenso em 2025. No início de abril, Paulo Teixeira participou do congresso nacional da entidade, representando Lula, e destacou que a confederação “tem grande participação nas políticas públicas do governo Lula 3”, segundo o Estadão. O presidente da Contag, Aristides Veras, é figura histórica do PT, tendo ajudado a fundar o partido nos anos 1980 e atuado como vereador e vice-prefeito pelo partido em Tabira (PE).
A operação da PF, que envolveu 700 policiais e 80 servidores da Controladoria-Geral da União (CGU), cumpriu 211 mandados de busca e apreensão, sequestrou bens avaliados em mais de R$ 1 bilhão e afastou seis servidores do INSS, incluindo Stefanutto. A investigação revelou que entidades como a Contag realizavam descontos associativos sem autorização, muitas vezes falsificando documentos, lesando aposentados em um esquema que se intensificou desde 2019, conforme o Estadão.
A proximidade da Contag com o governo Lula e sua liderança petista levantam questionamentos sobre a supervisão das entidades conveniadas ao INSS, especialmente após a CGU alertar sobre irregularidades desde 2023. O caso expõe fragilidades no controle dos descontos e pressiona o governo a garantir a restituição dos valores aos beneficiários, ainda sem prazo definido, segundo o Estadão.