No final de 2024, o dólar ultrapassou a marca psicológica de R$ 6,00 e, desde então, não retornou ao patamar de R$ 5,00, estabelecendo novos recordes nominais. O câmbio atual é 26% superior à média histórica do real em relação à moeda americana e está desalinhado com outros mercados emergentes.
Cenário Doméstico: Contas Públicas e Incertezas
A política fiscal brasileira e as dúvidas sobre a condução econômica do governo federal têm sido apontadas como fatores principais da depreciação do real. Especialistas, como Rodolfo Margato e Luíza Pineze, da XP, destacam que a falta de um plano robusto para estabilizar a dívida pública gera desconfiança entre investidores nacionais e estrangeiros.
“A frustração com o pacote de corte de gastos anunciado não traz perspectiva de estabilização da dívida nos próximos anos”, afirmam os analistas.
A economia brasileira, embora aquecida, não transmite otimismo para o futuro. A Selic, projetada em 15% para o final de 2025, é uma resposta direta ao risco fiscal e à inflação esperada de 5%, acima do teto da meta de 4,5%.
Influência Externa: Trump e Política Monetária dos EUA
O retorno de Donald Trump à Casa Branca intensificou o fortalecimento do dólar globalmente. O índice DXY, que mede o dólar contra outras moedas fortes, subiu 8% em 2024, reflexo da manutenção de juros altos nos EUA e expectativas em relação ao governo republicano, que pode adotar políticas protecionistas.
Embora o Federal Reserve tenha iniciado cortes de juros em 2024, é improvável que continue reduzindo no início de 2025. A economia americana permanece aquecida, e a manutenção de juros elevados torna o dólar uma opção segura para investidores, reforçando sua valorização.
“A alta demanda por dólar faz com que a moeda fique mais cara, e não vejo gatilhos no curto ou médio prazo que revertam essa tendência”, explica o consultor econômico André Galhardo.
Projeções para 2025 e 2026
Analistas revisaram suas projeções para o câmbio:
- XP Investimentos:
- R$ 6,20 no final de 2025.
- R$ 6,40 no final de 2026.
- Banco Central: R$ 6,00 ao longo de 2025.
O aumento dos juros pelo Banco Central brasileiro, embora possa atrair capital estrangeiro, é visto como um estabilizador temporário e não como um fator decisivo para reduzir o dólar.
Conclusão
O ambiente global de incertezas e o contexto fiscal doméstico indicam que o dólar deve permanecer acima de R$ 6 em 2025, possivelmente alcançando R$ 6,20. Sem catalisadores significativos para valorização do real, o Brasil enfrenta um cenário desafiador, onde o câmbio elevado impacta custos de produção, inflação e poder de compra da população.