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quinta-feira, 31 outubro, 2024
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Dólar em alta e inflação crescente: Banco Central pode aumentar juros em breve

Por Marina B.

O Banco Central deve manter a taxa Selic em 10,5% ao ano de forma unânime nesta quarta-feira, 31, mas com uma postura mais dura sobre possíveis aumentos futuros dos juros, caso o cenário econômico se deteriore. O mercado financeiro está de olho nos detalhes do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgado após o fechamento dos mercados.

Essa indicação de uma possível elevação da Selic nas próximas reuniões pode ter dois efeitos: por um lado, ajudar a acalmar o mercado e controlar a alta do dólar; por outro, provocar novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à instituição.

O tom mais firme do Banco Central refletirá a piora nas expectativas de inflação, impulsionada pela recente desvalorização do real, riscos fiscais brasileiros, a volatilidade do cenário externo com as eleições nos Estados Unidos, a expectativa de corte de juros pelo Fed e o possível aumento de juros pelo Banco Central do Japão.

Dólar, Inflação e Atividade Econômica

Desde a última reunião do Copom, em 19 de junho, quando a Selic foi mantida em 10,5% ao ano, as projeções do mercado para o IPCA de 2024 subiram de 3,96% para 4,10%. Para 2025, as estimativas aumentaram de 3,84% para 3,95%, distantes do centro da meta de 3%, o que exigirá uma ação firme do Copom.

As projeções para 2026 foram mantidas em 3,6%, e para os dois anos seguintes, em 3,5%, ainda acima da meta. O dólar também subiu, passando de R$ 5,42 em 19 de junho para R$ 5,61 nesta terça-feira, refletindo uma valorização de 15% desde o início do ano, o que afeta a inflação.

Os indicadores de atividade, especialmente no mercado de trabalho, mostram sinais de aquecimento, com o Ministério do Trabalho reportando a criação de 201 mil vagas com carteira assinada em junho, acima das expectativas.

Tom Mais Duro, Mas Sem Compromisso

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, prevê que o Copom possa adotar um tom mais duro através de um “balanço de riscos”, destacando que o cenário inflacionário está pior do que o esperado. Mesquita sugere que a Selic precisaria subir para pelo menos 11% para controlar as expectativas.

Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, alerta que um tom excessivamente rígido pode levar a uma expectativa ainda maior de novos aumentos da Selic, o que tornaria o Banco Central “refém” do mercado. Ele sugere que o Copom deve esperar para ver como a taxa de câmbio se acomodará antes de decidir sobre novas ações.

Incertezas no Campo Fiscal

O anúncio do governo sobre o congelamento de R$ 15 bilhões em despesas para o Orçamento de 2024 foi visto como positivo, mas insuficiente para gerar confiança na política fiscal. Economistas antecipam a necessidade de mais contenção de gastos para cumprir o arcabouço fiscal e a meta de déficit.

Além disso, a dívida bruta do governo central subiu para 77,8% do PIB, o maior nível desde novembro de 2021. As declarações do presidente Lula sobre as contas públicas também têm minado a confiança na agenda fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Antes da próxima reunião do Copom, em setembro, o governo terá que enviar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025, uma oportunidade para apresentar medidas de corte de despesas, embora o mercado seja cético quanto a isso.

Diretores ‘Lulistas’ Pressionados

O tom mais duro do Banco Central deve resultar em novas críticas de Lula e de integrantes do governo. A pressão será maior sobre o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, potencial sucessor de Roberto Campos Neto. Galípolo precisará demonstrar que pode resistir à pressão política, ou o mercado pode ver uma piora nas expectativas de inflação.

A partir de janeiro, o Banco Central terá sete dos nove diretores indicados por Lula, o que pode afetar as decisões sobre a Selic. O mercado vê isso como um risco, refletido nas expectativas de inflação.

Cenário Externo com Boas e Más Notícias

O cenário externo está se preparando para cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) em setembro. No entanto, o Banco Central do Japão pode elevar os juros, o que atrai capital para o Japão e pressiona moedas emergentes como o real.

O Banco Central realizará mais três reuniões até dezembro com a atual diretoria, e o mercado espera que Lula indique o novo presidente do Banco Central o quanto antes para reduzir as especulações sobre o cargo.

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