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segunda-feira, 23 dezembro, 2024
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Dólar alto: repasse cambial mais intenso aumenta a preocupação com a inflação

Por Alexandre Gomes

O repasse da desvalorização do câmbio foi destacado pelo Banco Central na ata do Copom de dezembro, que decidiu elevar a Selic para 12,25% ao ano e indicou a possibilidade de novos aumentos de 1 ponto porcentual.

Embora um dólar em torno de R$ 6 já seja um fator de preocupação em relação à inflação, o cenário atual exige mais atenção, pois o impacto da desvalorização da moeda brasileira nos preços ao consumidor está mais forte.

Esse aumento no repasse cambial, conhecido como “pass through”, é resultado da atual dinâmica da economia brasileira, que está operando acima da sua capacidade. As incertezas em relação à política fiscal e à trajetória futura da inflação contribuem para aumentar a cautela, intensificando o efeito da moeda sobre os preços dos produtos vendidos aos consumidores.

O Banco Central abordou esse repasse na ata da reunião de dezembro, mencionando que ele tende a ser maior quando a demanda está forte, as expectativas estão desancoradas ou a desvalorização da moeda é percebida como mais duradoura.

De acordo com João Fernandes, economista da consultoria Quantitas, a economia brasileira apresenta diversos desequilíbrios, com destaque para uma demanda superior à oferta. Ele explica que os formadores de preços, diante de um cenário de dólar elevado, começam a antecipar os impactos da inflação. “Eles pensam: ‘não sei até onde o dólar pode subir, mas sei que isso será um custo a mais para mim, então é melhor repassar logo essa desvalorização cambial'”.

Em seus modelos de projeção de inflação, Fernandes estima um repasse cambial entre 8% e 10%. Isso significa que, em um cenário de desvalorização de 10% do câmbio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) poderia subir até 1 ponto porcentual nos próximos quatro trimestres. Antes de 2021, esse repasse era mais baixo, variando entre 6% e 7%.

Ele também observa que o impacto do repasse varia conforme o tipo de produto. Nos alimentos, o efeito chega a 14%, enquanto nos bens industriais é de 8%, enquanto nos serviços o repasse é muito mais modesto, cerca de 2%.

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