A dívida bruta do governo geral deve aumentar 20 pontos percentuais nos próximos dez anos, alcançando 95% do PIB até 2033, e o governo precisará revisar a meta de resultado primário para o próximo ano. Essa é a previsão dos economistas Felipe Salto e Josué Pellegrini, da Warren Investimentos, que avaliam a política fiscal do governo Lula como um “feijão com arroz” — ou seja, uma abordagem mínima para evitar uma nova crise no país.
Salto e Pellegrini observam que há uma opção “política” para evitar enfrentar os principais problemas das finanças públicas, mas isso apenas adiará a necessidade de medidas estruturais. Na prática, o governo Lula está trocando um ajuste fiscal menos oneroso no presente por um ajuste mais difícil e custoso no futuro, independentemente de quem vença as eleições de 2026.
De acordo com o relatório obtido pelo Estadão, a dívida pública deve subir de 74,4% do PIB ao final de 2023 para 95% do PIB em 2033, sem perspectiva de estabilidade. A recente revisão das taxas de juros, em parte devido à situação fiscal, agrava essa trajetória.
Salto, economista-chefe da Warren, e Pellegrini, analista de macroeconomia, acreditam que o governo cumprirá a meta fiscal deste ano, que prevê um déficit de R$ 28,8 bilhões, embora isso seja considerado uma melhora pontual, baseada em receitas excepcionais que não são esperadas para os anos seguintes.
Adiar o problema para 2027 poderá forçar a eliminação da política de aumentos reais do salário mínimo e o fim das vinculações com as receitas de Saúde e Educação. O programa de revisão de gastos é considerado ineficaz, pois se limita a combater fraudes, ao invés de avaliar a eficácia das políticas públicas.
Principais trechos da entrevista:
A Warren Investimentos projeta cumprimento da meta fiscal este ano, mas não prevê estabilidade da dívida. Por quê?
- Salto: O governo está ajustando fiscalmente através de receitas excepcionais, o que traz resultados no curto prazo, mas medidas mais estruturais são necessárias para equilibrar a dívida em relação ao PIB.
- Pellegrini: Mesmo com o cumprimento da meta, a dívida continuará a subir. Um superávit primário maior que 1% do PIB é necessário para estabilizar a dívida.
Qual é a diferença entre o déficit para cumprir a meta e o déficit que impacta a dívida?
- Pellegrini: Em 2024 e 2025, mesmo cumprindo a meta, o déficit permanecerá elevado e impactará a dívida. Por exemplo, em 2024, o déficit total será de R$ 57,6 bilhões, considerando tanto o limite inferior da meta quanto o socorro ao Rio Grande do Sul.
Por que o governo pode revisar a meta de déficit primário zero em 2025?
- Salto: O governo conseguiu receitas extraordinárias em 2024, mas será difícil repetir isso. O cenário sugere uma revisão da meta, pois as medidas atuais não são suficientes para cumprir a meta estabelecida.
Quais seriam as consequências para a economia de uma nova alteração da meta?
- Pellegrini: A alteração não ajudará nas expectativas dos agentes econômicos e pode resultar em um déficit significativo, afetando negativamente a dívida pública.
O governo está trocando um ajuste fiscal mais barato agora por um ajuste mais caro no futuro?
- Pellegrini: Sim, adiar o ajuste torna-o mais penoso e pode aumentar a vulnerabilidade do país a crises. Medidas imediatas poderiam ser mais eficazes e menos custosas.
O que o governo precisa fazer para mudar o cenário de aumento da dívida?
- Salto: Implementar medidas rigorosas para conter gastos obrigatórios, o que teria efeitos imediatos na trajetória da dívida e ajudaria a melhorar as expectativas econômicas.