Economista Luis Carlos Burbano Zambrano diz em entrevista que, entre outros fatores, trajetória da dívida pública aumenta o risco dos investidores
A manutenção da taxa Selic em 15%, pelo Banco Central (BC) do Brasil, na quarta-feira, 10, manteve os juros reais brasileiros na segunda colocação entre os mais altos do mundo. Os juros reais são a taxa de juros descontada da inflação do período.
A própria cautela do BC é uma das explicações para isso. Ao contrário da Turquia, marcada por um intervencionismo governamental e alta volatilidade inflacionária, o Brasil tem uma estrutura que permite maior controle financeiro por parte do BC. Por isso, com uma inflação em queda e os juros altos, a taxa real tende a ficar mais alta.
No entanto, o déficit público brasileiro continua sendo um outro motivo concreto para a cautela do BC. O déficit nominal, que inclui os juros, mostra o fluxo atual, ou seja, se o governo está gastando mais do que arrecada no momento. Em um cenário no qual, apesar de a inflação estar caindo, os juros não caíram, o risco fiscal continua alto ou até pior.
A dívida bruta, que também tem crescido, representa o acúmulo. É prejudicial também por afetar a percepção de solvência. Isso gera uma certa expectativa em relação à ameaça de uma inflação no futuro. Déficit e dívida, neste sentido, fazem o BC não diminuir os juros, em função do clima de desconfiança, inclusive por parte de investidores.
“Nos modelos utilizados pelo BC, a inflação futura depende do comportamento das expectativas”, afirma a Oeste o economista Luis Carlos Burbano Zambrano, formado na Universidad del Valle (Colômbia). “Como o Boletim Focus [relatório semanal do BC] mantém projeções acima da meta para horizontes de 2025 e 2026, o Comitê de Política Monteráia [Copom] interpreta que a ancoragem ainda não foi restabelecida.”
“Reduzir juros agora poderia sinalizar afrouxamento prematuro, gerar desancoragem e pressionar o câmbio, reacelerando preços sensíveis, como combustíveis e bens comercializáveis.”
Juros e risco fiscal
No Brasil, os dados fiscais oficiais mostram que o déficit nominal do setor público permaneceu em 2024 e em 2025, próximo a 8% do Produto Interno Bruto (PIB). A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que mede o estoque total de endividamento público em relação ao tamanho da economia, cresceu de cerca de 75,7% do PIB ao final de 2024 para cerca de 76,8% do PIB nos dados mais recentes de 2025, segundo o BC.
Há ainda alguns fatores que não têm convencido o BC, segundo o economista. Eles não embarcam na percepção de que a demanda interna permanece aquecida; na taxa de desemprego em níveis baixos; na massa salarial e no consumo das famílias. Tampouco nas políticas de transferência de renda que reforçam a renda disponível.
“Para o BC, esse ambiente caracteriza pressão de demanda que precisa ser moderada para evitar repasses de custos aos preços”, ressalta Burbano. Ele volta a citar o risco fiscal.
“A trajetória da dívida pública, a dificuldade de cumprimento das metas fiscais e a ampliação das exceções ao arcabouço aumentam o prêmio de risco exigido pelos investidores, pressionando a taxa de câmbio e exigindo juros mais altos para evitar contaminação inflacionária.”