Documentos revelam tentativas internas de barrar o colapso antes que os números saíssem do controle
O Jornal Nacional obteve documentos exclusivos que detalham o agravamento da crise nos Correios. Desde 2023, o Conselho Fiscal da estatal emitiu pelo menos quatro avisos destacando o aumento descontrolado de gastos e a queda na entrada de recursos.
O grupo de fiscalização conta com representantes do Tesouro Nacional e do Ministério das Comunicações.
- Em agosto de 2023, o Conselho exigiu explicações sobre cortes de gastos e cobrou um plano para atrair novas receitas.
- Dois meses depois, os membros advertiram sobre o peso da folha de pagamento e ressaltaram a dificuldade da estatal em reduzir custos rapidamente.
- O cenário piorou em abril de 2024, quando o colegiado classificou as metas de arrecadação como irreais. O histórico da empresa indicava valores bem menores do que os projetados pela diretoria, o que confirmava receitas superestimadas.
- Na ocasião, os técnicos indicaram um risco real de falta de dinheiro em caixa. Como resultado, o Conselho defendeu o corte imediato de despesas para proteger o patrimônio e garantir a operação da estatal.
O crescimento acelerado do déficit
Os números mostram uma situação crítica. Em 2024, a empresa fechou com balanço negativo de R$ 2,6 bilhões. O governo federal iniciou debates para salvar as contas em janeiro de 2025.
Em maio do mesmo ano, a estatal lançou um plano de reestruturação com promessa de economizar R$ 1,5 bilhão. A iniciativa falhou, pois os gastos subiram e o faturamento caiu. Assim, o prejuízo saltou para R$ 6 bilhões até setembro e a projeção para o fim de 2025 indica um rombo de até R$ 10 bilhões.
Pressionada, a gestão apresentou um novo plano em novembro. A proposta inclui a demissão voluntária de 15 mil colaboradores e a venda de prédios.
A estatal buscava inicialmente um empréstimo de R$ 20 bilhões, mas ainda negocia com bancos. A expectativa atual é que o valor do crédito fique em R$ 12 bilhões.
CGU identifica omissão em balanço dos Correios
Técnicos da Controladoria-Geral da União (CGU) descobriram falhas graves no balanço de 2023. A auditoria indica que os Correios omitiram R$ 1 bilhão em dívidas trabalhistas. A manobra evitou que o resultado oficial fosse ainda mais desastroso.
Oficialmente, a empresa declarou prejuízo de R$ 600 milhões naquele ano. No entanto, a CGU afirma que o déficit real foi de R$ 1,6 bilhão.
A estatal ignorou condenações definitivas do Tribunal Superior do Trabalho para viabilizar o balanço. Os gestores usaram uma liminar de instância inferior, obtida pouco antes da publicação dos dados, para retirar a dívida da contabilidade.