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quinta-feira, 28 novembro, 2024
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Conta de luz e alimentos reforçam cenário de estouro da meta de inflação

Por Alexandre Gomes

Na sexta-feira, a XP Investimentos e o Santander Brasil elevaram suas estimativas para o IPCA de 2024, de 4,4% para 4,6%, e de 4,1% para 4,4%, respectivamente

A adoção da bandeira tarifária vermelha nas contas de energia elétrica e os efeitos do clima seco e da estiagem sobre os preços de alguns alimentos devem fazer com que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estoure o teto da meta, de 4,5%, em 2024. A previsão é de economistas consultados pelo Estadão/Broadcast.

Se o cenário de estouro da meta for confirmado, seria a oitava vez, desde a adoção do regime, em 1999, que a inflação fica fora do intervalo de tolerância, e a terceira só nos últimos quatro anos (2021, 2022 e 2024), período em que o Banco Central está sob o comando de Roberto Campos Neto. Quando a inflação fica acima do teto ou abaixo do piso estabelecido, o presidente do BC deve escrever uma carta ao Conselho Monetário Nacional (CMN) com a descrição detalhada das razões que levaram ao rompimento do limite.

Na sexta-feira, a XP Investimentos e o Santander Brasil elevaram suas estimativas para o IPCA de 2024, de 4,4% para 4,6%, e de 4,1% para 4,4%, respectivamente. Em relatório, ambas as instituições atribuíram o cenário às condições climáticas, com efeito altista tanto nos preços da energia quanto dos alimentos. “O período seco está se aproximando do fim, com chuvas abaixo da média e temperaturas mais altas, que podem durar por mais algumas semanas ainda”, escreveu o Santander.

Bandeira
A bandeira tarifária da energia passou de verde em agosto para vermelha 1 em setembro e para vermelha 2 (o nível mais crítico possível) em outubro. Tanto Santander quanto a XP preveem que a bandeira ao final do ano ficará ao menos em vermelha 1, perspectiva que também é corroborada por técnicos da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), conforme apuração do Estadão/Broadcast.

O economista da Quantitas João Fernandes também aponta a bandeira vermelha como um dos vetores que corroboram o cenário de estouro do teto da meta em 2024. Ele projeta IPCA de 4,7% no final do ano e considera um cenário em que há 70% de chance de bandeira tarifária vermelha 2 em dezembro e 30% de chance de bandeira vermelha 1.

Fernandes destaca, porém, que o maior risco para a alta da inflação no curto prazo são os preços dos alimentos. “A principal vilã do momento é a carne bovina”, diz o economista, observando que a cotação da arroba do boi gordo tem subido consistentemente nas últimas semanas.

Ele não descarta a possibilidade de um IPCA abaixo dos 4,5% ao final do ano, caso haja um volume de chuvas mais forte do que o esperado para este mês, trazendo alívio tanto para os reservatórios quanto para a produção agropecuária. “Mas seria um cenário onde as coisas surpreendem no sentido benigno”, reforça.

A projeção da economista do BNP Paribas para Brasil, Laiz Carvalho, é de IPCA em 4,4% em 2024. A estimativa considera a adoção da bandeira tarifária vermelha 1 para o final do ano e inflação de alimentos de 6% no acumulado de 2024, mas Laiz reconhece que o viés é de alta.

“Já estamos considerando uma retomada dos preços de alimentos para os próximos meses, pelo efeito das secas recentes e pelo comportamento sazonal mais alto de alimentos no final do ano”, diz a economista. Caso a vigência para dezembro seja de bandeira tarifária vermelha 2, Laiz calcula IPCA de 4,67%, acima do teto.

O Itaú Unibanco também ainda prevê inflação abaixo do teto da meta (4,4%), mas reconhece que os riscos hoje são de alta. “O balanço de riscos é majoritariamente altista com chance de a seca pressionar ainda mais os preços de energia (via acionamento de bandeira vermelha 1 em dezembro) e de alimentos”, alerta o banco, em relatório do economista-chefe, Mario Mesquita, divulgado na sexta-feira.

Esses riscos relacionados com questões climáticas, porém, podem ser compensados, ainda que parcialmente, por uma redução no preço da gasolina, na esteira da defasagem entre o preço doméstico e a cotação internacional do combustível, ressalta o Itaú.

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