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segunda-feira, 18 novembro, 2024
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Como o pacote de gastos pode afetar as expectativas para a Bolsa brasileira?

Por Alexandre Gomes

Medida deve determinar trajetória do mercado nos próximos meses, com a necessidade de uma virada no comportamento fiscal para reverter a incerteza e atrair novamente os fluxos de investimentos estrangeiros

O mercado financeiro brasileiro está em estado de expectativa e incerteza em relação ao futuro dos cortes de gastos públicos e seu impacto na Bolsa. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na quarta-feira (13) que o ministério já está preparado para anunciar os detalhes do pacote de cortes de gastos, mas que aguarda a aprovação do presidente Lula (PT), que ainda não definiu a data para a divulgação. No domingo, afirmou que o pacote de cortes de gastos “está fechado” com Lula, e que o anúncio ocorrerá “brevemente”.

De acordo com informações do Valor Econômico, Haddad adiantou a alguns congressistas que as medidas podem poupar cerca de R$ 70 bilhões em dois anos, sendo R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026.

O Bradesco BBI aponta que, para que as expectativas do mercado comecem a se reancorar e abram espaço para futuros cortes de juros, é fundamental que o governo adote um plano de ajuste fiscal potente e estrutural. Entre as medidas mais aguardadas, estão cortes de gastos e reformas estruturais que aprofundem a regra fiscal.

Esse processo, segundo o banco, é visto pelo mercado como um fator decisivo, mas essa perspectiva fiscal permanece envolta em incertezas, com especialistas do BBI destacando que uma decepção nas ações do governo poderia aprofundar a crise de confiança, elevando as taxas de juros, enfraquecendo o real e afastando investidores estrangeiros, que atualmente possuem boas posições no mercado brasileiro.

O relatório indica ainda que os cortes de juros e um desconto antecipado do risco político levando em conta as eleições presidenciais de 2026 são dois dos principais motores de 2025, mas ambos dependem de uma âncora fiscal confiável. O banco atribui uma probabilidade de 70% para um cenário em que o governo adote um ajuste positivo, com cortes de gastos e reforma fiscal.

Essa combinação, dizem os analistas, é considerada fundamental para sustentar uma redução nos juros ao longo do próximo ano. No entanto, há desafios consideráveis: a necessidade de aprovação no Congresso e o risco de atrasos na execução tornam essa uma situação binária — com potencial de sucesso, mas também com alto risco de fracasso.

Setores que ganham e que perdem

O BBI aponta que, se as expectativas de corte de gastos se confirmarem, setores como Materiais e Consumo Discricionário são vistos como os principais beneficiados na Bolsa, historicamente favorecidos em períodos de corte de juros.

Esses setores, que costumam se antecipar de três a seis meses aos cortes, são considerados “ganhadores” devido ao alto nível de desconto no mercado. Por outro lado, os setores de tecnologia e energia são apontados como os “perdedores” em cenários de corte de juros, já que suas operações tendem a ser menos impactadas pela queda nas taxas.

Entre os maiores beneficiários de um cenário de queda dos juros, o banco destaca empresas como Brisanet (BRIT3), Marfrig (MRFG3), Casas Bahia (BHIA3) e Movida (MOVI3), que possuem alta sensibilidade a juros devido ao perfil de dívida. No outro extremo, empresas como Banco Pan (BPAN4), ABC Brasil (ABCB4) e Inter (INBR32) estão entre as que sofreriam maior impacto negativo, devido à redução de suas margens de lucro com a queda nos juros.

Economia desacelerada

Para 2025, mesmo com um ajuste fiscal bem-sucedido, o Bradesco BBI projeta que o Banco Central só conseguirá reduzir a taxa Selic gradativamente, com um pico de 12,25% previsto para o primeiro trimestre de 2025, caindo para 10,75% no final do ano, e possivelmente chegando a 9,5% em 2026.

Os estrategistas do banco afirmam que o Brasil se destaca globalmente com a maior taxa de juros real, o que impulsiona as expectativas do mercado para uma queda significativa. No entanto, os especialistas do Bradesco BBI observam também que essa queda precisa de um alicerce fiscal sólido, dado que uma política fiscal expansionista em meio a um Banco Central independente e um novo presidente à frente da instituição pode enfraquecer a confiança do mercado.

Caso o cenário de corte de gastos e estabilidade fiscal se concretize, o BBI diz que o Brasil poderia ver um ciclo de valorização do real e aumento dos múltiplos de avaliação que compensariam eventuais reduções nos lucros. A Bolsa brasileira, portanto, segue atenta e dependente das decisões fiscais para dar início a um possível rali em 2025. O BBI, por enquanto, se mantém na defensiva com recomendação “neutra” em Brasil e com preferência por investimentos em outros países da América Latina, como México, Chile e Argentina, onde as expectativas de cortes de juros já estão em andamento.

Confiança volátil

O Goldman Sachs projeta que o crescimento econômico da América Latina permanecerá modesto até 2025, com o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil apresentando uma desaceleração contínua, enquanto países como a Argentina podem ver alguma recuperação graças a reformas fiscais e regulatórias.

No entanto, o banco aponta que, sem um ajuste fiscal estrutural, a confiança do mercado se manterá volátil, o que pode resultar em uma permanência de taxas de juros elevadas, como ocorre no Brasil, onde a expectativa é de que a Selic continue a 12,75% até o primeiro trimestre de 2025. A perspectiva de um crescimento fraco e persistente da inflação pode ser a chave para os próximos passos do BC.

O Bradesco BBI aponta que, embora o governo esteja em processo de revisão fiscal, um corte de despesas abaixo de R$ 60 bilhões, como alguns analistas apontam, poderia comprometer a credibilidade do arcabouço fiscal. As expectativas em relação à necessidade de um ajuste mais profundo para estabilizar as finanças públicas e reduzir os riscos fiscais são altas. O banco sugere que um pacote fiscal completo e mais substancial é inegociável para restaurar a confiança e ajudar a mitigar o risco de um ciclo de juros elevados.

Por outro lado, a situação fiscal crítica no Brasil impacta diretamente os fluxos de investimentos, com uma saída contínua de capitais estrangeiros. De acordo com o relatório do JP Morgan, as saídas líquidas de ações estrangeiras na B3 continuam a ser um problema persistente. Em outubro, as saídas somaram mais R$ 2,5 bilhões, refletindo um movimento de aversão ao risco alimentado pelas incertezas fiscais e pela pressão sobre o real, agravada pela valorização do dólar, especialmente com o contexto internacional desafiador.

Para o JP Morgan, a questão central será, portanto, se o governo conseguirá entregar um ajuste fiscal eficaz ou se as falhas nesse processo continuarão a pesar sobre o mercado brasileiro.

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