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segunda-feira, 12 maio, 2025
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Comerciantes rotulam petróleo venezuelano como brasileiro para abastecer China, aponta Reuters

Por Alexandre Gomes

Um levantamento divulgado pela agência de notícias Reuters aponta que comerciantes internacionais rotularam mais de US$ 1 bilhão em petróleo venezuelano como se fosse brasileiro entre julho de 2024 e março de 2025. A prática tem como finalidade reduzir custos logísticos e contornar sanções impostas pelos Estados Unidos ao setor petrolífero da Venezuela desde 2019.

Segundo a reportagem, as cargas saíram diretamente da Venezuela com destino à China, maior importador mundial de petróleo bruto, utilizando o nome “petróleo brasileiro” ou “mistura de betume brasileira”. Essa reclassificação permitiu que os navios evitassem a rota pela Malásia, ponto comum de transbordo para petróleo sancionado, encurtando o trajeto em até quatro dias.

De acordo com dados da alfândega chinesa, cerca de 2,7 milhões de toneladas métricas — o equivalente a 67 mil barris por dia — de betume misto rotulado como proveniente do Brasil foram importadas pela China nesse período, totalizando US$ 1,2 bilhão.

Sinais de localização e falsificação documental

As empresas de rastreamento TankerTrackers.com, Inc. e Vortexa Analytics identificaram casos de falsificação de sinais de localização (“spoofing”) por parte de navios-tanque que apareciam como partindo de portos brasileiros, apesar de terem carregado o petróleo na Venezuela. Um dos casos citados envolveu o navio Karina, de bandeira liberiana, que transportou 1,8 milhão de barris de petróleo do tipo Merey 16, identificado como brasileiro e descarregado no porto de Yangpu, na China.

Documentos internos da estatal venezuelana PDVSA indicam que os embarques eram feitos por meio de intermediários, como a empresa Hangzhou Energy, que atua no transporte de petróleo venezuelano.

Diferença entre betume e petróleo brasileiro

Autoridades e representantes da Petrobras informaram que o Brasil não exporta misturas de betume para a China. Segundo a presidente da estatal, Magda Chambriard, “o que exportamos para a China é principalmente petróleo do pré-sal, não é betume”. Os principais óleos brutos exportados pelo Brasil são classificados como petróleo médio-doce, oriundos de campos offshore.

Dados da alfândega brasileira não registram exportações de mistura de betume para a China desde pelo menos 2023.

Apesar disso, comerciantes afirmam que classificar o petróleo Merey como betume evita a necessidade de cotas governamentais de importação exigidas pelas refinarias chinesas para o petróleo bruto tradicional, facilitando o comércio.

Envio e volumes

Segundo os dados apresentados, a Venezuela exportou cerca de 351 mil barris por dia de petróleo e derivados pesados para a China em 2024. Nos primeiros quatro meses de 2025, o volume subiu para 463 mil barris por dia. A maior parte desses carregamentos continua sendo declarada como originária da Malásia ou como mistura de betume, e menos de 10% são identificados como venezuelanos.

O governo brasileiro, a PDVSA e a administração aduaneira chinesa não responderam aos pedidos de comentários feitos pela Reuters até a publicação da matéria.

Implicações para o Brasil

Embora não haja evidências de envolvimento direto do governo brasileiro ou da Petrobras nessas operações, a utilização indevida da origem brasileira pode ter repercussões diplomáticas e econômicas.

Caso autoridades internacionais determinem que houve negligência ou conivência por parte de entidades brasileiras, o país pode enfrentar sanções ou restrições comerciais, afetando setores estratégicos da economia.

(Por Reuters).

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