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quarta-feira, 22 outubro, 2025
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Com dívida bilionária, Ambipar pede recuperação judicial no Brasil e nos EUA

Por Alexandre Gomes

Empresa busca reorganizar dívidas depois de colapso dos títulos verdes e disputas com credores

A Ambipar entrou oficialmente com pedido de recuperação judicial nesta segunda-feira, 20, na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro e na Justiça dos Estados Unidos. Em comunicado ao mercado, a companhia disse que constatou “indícios de irregularidades” administrativas da antiga diretoria financeira.

A decisão confirma a expectativa do mercado financeiro, que considerava a medida como inevitável. Em setembro, a Justiça havia concedido uma medida cautelar que suspendeu execuções por 30 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 30.

O pedido de recuperação judicial, que envolve todas as empresas do grupo, foi aprovado em caráter de urgência pelo conselho de administração da companhia. Pedido semelhante foi protocolado em um tribunal do Texas em relação à Ambipar Emergency Response. A ação tem fundamento no Capítulo 11 da Lei de Falências norte-americana, que é o equivalente à recuperação judicial brasileira.

Com a recuperação judicial, a empresa tenta evitar a cobrança imediata de dívidas e ganhar tempo para propor um plano de pagamento. Estimativas da própria companhia indicam risco de perdas superiores a R$ 10 bilhões, caso as cobranças cruzadas permaneçam sem controle.

A situação da Ambipar se agravou com a desvalorização de seus green bonds — títulos emitidos por uma subsidiária em Luxemburgo para financiar projetos sustentáveis.

O problema começou em setembro, quando os papéis perderam valor e o Deutsche Bank disparou cobranças. Outros credores seguiram o mesmo caminho: Santander, Itaú, Bradesco, Banco ABC, Banco do Brasil e Sumitomo Mitsui estão entre os maiores.

Como resultado, a crise financeira expôs disputas internas. Conforme apurou o jornal Folha de S.Paulo, o escritório BR Partners, contratado para negociar com os bancos, defendia uma solução sem recorrer à Justiça.

No entanto, os advogados da Ambipar insistiram na entrada da consultoria Álvares Marsal, especializada em reestruturação. A tese da recuperação acabou prevalecendo.

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Em comunicado ao mercado, a Ambipar atribuiu a crise a “indícios de irregularidades” na diretoria financeira. “O pedido de recuperação judicial foi ajuizado em razão da sequência de eventos deflagrada após a descoberta de indícios de irregularidades na contratação de operações de swap pela Diretoria Financeira e a renúncia abrupta do antigo diretor financeiro, que resultou em forte abalo na confiança do mercado em relação ao Grupo Ambipar e culminou em pedidos de antecipação de vencimento de dívidas por parte de alguns credores, criando risco concreto de vencimento cruzado de outras obrigações do Grupo”, afirmou a companhia em comunicado ao mercado.

Segundo a empresa, ex-executivos teriam firmado aditivos com o Deutsche Bank sem aval do conselho, comprometendo operações de proteção cambial. Um deles seria João Daniel Piran de Arruda, ex-CFO da companhia, segundo a Folha.

A defesa de Arruda contesta. O advogado David Rechulski afirma haver provas de que o CEO da Ambipar, Tércio Borlenghi Júnior, comemorou a assinatura dos contratos.

A disputa jurídica envolve alguns dos maiores escritórios do país. O Deutsche Bank é representado pelo Pinheiro Neto. O Itaú e o Sumitomo Mitsui recorreram ao SOB Advogados. Bradesco conta com apoio dos escritórios Machado Meyer e Warde. O Santander está com o Demarest. Parte dos bondholders contratou os escritórios Padis Mattar e Davis Polk.

Executivos que acompanham o caso relatam que o Itaú foi um dos mais duros nas negociações. O banco também questiona o fato de a recuperação judicial ter sido solicitada no Rio de Janeiro, mesmo com a sede da Ambipar em São Paulo. Essa mudança de foro, segundo analistas, virou tendência recente em disputas desse tipo.

Criada em 1995, a Ambipar se apresenta como uma multinacional brasileira focada em soluções ambientais. A companhia afirma operar em 41 países, com mais de 20 mil funcionários. Em 2024, registrou faturamento de R$ 6,4 bilhões.

Além da ação no Brasil, a Ambipar Emergency Response — empresa do grupo com sede nas Ilhas Cayman — solicitou nos Estados Unidos o ingresso no Chapter 11, processo equivalente à recuperação judicial norte-americana.

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