Indústria avalia a proposta como inoportuna, eleitoreira e capaz de elevar custos em momento de baixa produtividade
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reagiu com firmeza ao avanço da PEC que propõe reduzir a jornada semanal de trabalho de 44 para 36 horas e extinguir a escala 6×1. A proposta, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), recebeu aprovação de forma acelerada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado nesta quarta-feira, 10.
O processo se deu em votação extrapauta e com mínima discussão. O presidente da CNI, Ricardo Alban, considerou a medida “inoportuna e eleitoreira”. Afirmou ainda que se surpreendeu com a movimentação.
CNI questiona momento de discussão
Pelo texto, a jornada passaria para 40 horas semanais no ano seguinte à promulgação e seria reduzida progressivamente, uma hora por ano, até atingir o limite de 36 horas. Alban questiona o momento escolhido para o debate. Para ele, o país enfrenta pleno emprego e déficit de mão de obra qualificada. Assim, a medida adiciona custos e principalmente ignora desafios estruturais da economia.
O dirigente destacou que não se opõe ao fim da escala 6×1, mas observou sobretudo que muitos setores já adotam rotinas como 5×2 ou modelos intermediários, fruto de negociações coletivas. Segundo Alban, eventuais mudanças devem desse modo continuar sendo tratadas por acordos entre empresas e sindicatos, e não por imposição constitucional.
Ele afirmou da mesma forma que pretende dialogar com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), antes que a matéria vá ao plenário. A CNI argumenta que o país enfrenta dois entraves urgentes: produtividade baixa e contas públicas pressionadas.
Sem avançar nessas frentes, diz Alban, novas obrigações podem tornar a indústria menos competitiva no cenário global. Nos bastidores, dirigentes petistas afirmam que a redução da jornada assim como o fim da escala 6×1 têm forte apelo entre o eleitorado e devem ser explorados pelo governo e pelo PT na campanha presidencial de 2026.
PT: o populismo de sempre
A estratégia inclui também a defesa da tarifa zero no transporte público. Interlocutores do presidente Lula da Silva afirmam que a intenção é manter esses temas em evidência, sinalizando uma agenda de supostas melhorias das condições sociais, ainda que as medidas não avancem imediatamente no Congresso.